Segunda-feira,
9/9/2002
Havre et Guadeloupe
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 98 >>>
Édouard Manet foi um dos maiores pintores do século XIX.
Reza a lenda que nos anos 1840, aos 17, ele esteve de passagem
pelo Rio de Janeiro. São cartas dessa aventura ultramarina que lemos
no bem-acabado "Viagem ao Rio", pela editora José Olympio.
Mais tarde, já consagrado nos salões de Paris, teria sido vítima
dos exageros dos nacionalistas Afonso Taunay,
Antonio Bento e Agripino Grieco, que enxergavam em suas obras uma
influência da Terra Brasilis (muito maior do que ela era na verdade).
O pequeno volume, quase uma edição de bolso, é caprichosamente
ilustrado com paisagens do Rio de Janeiro da época, por August
Müller, Frederico Guillerme Briggs e Charles Ribeyrolles, entre outros.
Talvez para compensar a monotonia do texto que, da saída do ponto de
Havre até a chegada na Baía da Guanabara, diz muito pouco ou quase
nada. Relatos basicamente sobre o céu e o mar, numa existência que o
próprio Manet chamou de "ridícula". No Rio, porém, as coisas começaram
a acontecer. O aspirante a pintor horroriza-se com o mercado de
escravos, embora confidencie a um amigo apreciar a beleza das mulatas
(desnudas da cintura para cima). Reclama das ruas muito
estreitas, nas quais depois das cinco da tarde flerta com as
brasileiras, "recatadas e tontas", à janela. Brinca também com elas
o Carnaval, participando ativamente da guerra de "limões de cheiro".
Observa que os brasileiros e portugueses são, em geral, preguiçosos
e que a cidade é tomada por três quartos de negros que realizam todo
o trabalho. Ao contrário de Gauguin, encanta-se com a visão do paraíso
e à maneira dos tripulantes das caravelas de Pero Vaz Caminha,
alimenta-se com uma ração de bolachas. São impressões, portanto, como
outras quaisquer. Vindo de quem vêm, no entanto, a coisa muda de
figura. Continuamos embasbacados com a chegada de estrangeiros e
com os seus relatos sobre nós.
>>> Viagem ao Rio - Edouard Manet - 128 págs. - José Olympio
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Julio Daio Borges
Editor |
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