busca | avançada
74965 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Terça-feira, 17/9/2002
Espírito de porco

Julio Daio Borges




Digestivo nº 99 >>> Muito espanto por causa da saída de Nando Reis dos Titãs do Iê-Iê-Iê. Ainda que eles não tenham sido os mesmos há mais de dez anos, os fãs lamentam o que então parecia inevitável. É fato incontestável que a trajetória ascendente de "Cabeça Dinossauro" (1986) e "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" (1987), a mesma que culminou com "Õ Blésq Blom" (1989), vinha descendo a ladeira desde "Tudo ao Mesmo Tempo Agora" (1991). Na época, os Titãs se deixavam seduzir pelo modismo do "grunge" de Seattle e se submetiam à produção (que acreditavam salvadora) de Jack Endino, o mesmo que se consagrara ao lançar o Nirvana de Kurt Cobain. Na tentação fácil de regredir ao "puro rock" e de deixar para trás toda a influência dos ritmos brasileiros, a musicalidade tão arduamente conquistada foi sacrificada (em nome da santíssima trindade: guitarra, baixo e bateria e das letras que ficaram presas numa espécie de "adolescência" [farta em palavrões e terminologia chula]). Não por acaso, Arnaldo Antunes, o verdadeiro "desafinado", abandonaria o barco no álbum subseqüente, para se dedicar à carreira de compositor (seduzindo Marisa Monte, Maria Bethânia e Zélia Duncan, nesta ordem) e também de intérprete (nunca com o mesmo sucesso, obviamente). Pode-se dizer que Nando Reis já vinha botando as "asinhas para fora" desde o "Mais" (1991), da mesma Marisa Monte, em que assinava simplesmente a composição mais importante do álbum: "Diariamente", cuja versificação seria repetida exaustivamente por hordas de jovens admiradores da diva. O último espasmo de inteligência dos Titãs, porém, ocorreria em 1997, no "Acústico", que reuniria novamente o octeto e remeteria às suas canções mais criativas até o momento. Paulo Miklos - mais conhecido com o ator do "Invasor" (2002), de Beto Brant - ascendia como cantor, enquanto que Sérgio Britto e Branco Mello, outrora "apagados", assumiam muitas vezes o comando. Nando Reis ainda gravaria dois discos solo e veria o seu sol brilhar com Cássia Eller, sua discípula mais dedicada, para fortalecido optar pelo afastamento. Desde a morte trágica de Marcelo Fromer que os seguidores do Titãs se perguntam se ainda vale à pena. Ao que parece, os Titãs (ou os seus remanescentes) ainda acham que vale.
>>> Nando Reis abandona os Titãs
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

busca | avançada
74965 visitas/dia
1,9 milhão/mês