Segunda-feira,
23/9/2002
Fi-lo porque qui-lo
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 100 >>>
Ninguém agüenta mais. De repente, todo mundo tem de ter uma opinião sobre os casais flagrados em cenas íntimas, durante a tal festa da FGV. Circula por aí uma analogia interessante: quando se noticiou, há mais de um ano, que as adolescentes da periferia do Rio de Janeiro ficavam grávidas durante os bailes funk, todo mundo se horrorizou; agora mudou a cidade, mudou a classe social, as pessoas se conhecem e se fecham numa cabine por quinze rapidíssimos minutos, são fotografadas, e todo mundo só consegue falar na "liberdade" que cada um tem de fazer o que bem entender. Se existe tal liberdade e se o ato de exercê-la é tão corriqueiro quanto passar manteiga no pão, por que pessoas normais (não só os supostos cyber nerds) passaram e repassaram as fotos por e-mail, como se fosse o furo jornalístico da semana? Se fosse tão normal e tão inofensivo assim ninguém se interessaria, não é mesmo? Se nos Estados Unidos existe o falso moralismo de se condenar o que naturalmente acontece entre quatro paredes (caso Monica Lewinsky), no Brasil existe o falso moralismo reverso: aceita-se e estimula-se tais práticas, mas contra todas as evidências, elas são raras no País do Carnaval - o que obriga o brasileiro a correr diariamente atrás de nádegas, seios e reality shows. Não é estranho? Não à toa, uma reportagem da Folha de S. Paulo de alguns anos atrás revelava que o brasileiro médio, em matéria de sexo, é o típico cão-que-ladra-mas-não-morde: diz que é feliz na cama, mas não é coisa nenhuma; diz que transa não sei quantas vezes por semana, e não transa coisa nenhuma; diz que tem orgasmos não sei como, mas a verdade é que não sabe disso há muito. O caso da FGV ilustra, entre a juventude eletrônica, o caráter nacional: na condição de espectador, o brasileiro posa de protagonista e, enquanto isso, perde o trem da História.
>>> Fiz sim, e daí? | Hoje a festa é nossa
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Julio Daio Borges
Editor |
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