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Segunda-feira, 30/9/2002
O espírito e o mundo

Julio Daio Borges




Digestivo nº 101 >>> A primeira coisa que vem à cabeça quando se pensa em Antonio Candido é a sua "Formação da literatura brasileira" (1959), obra de juventude e da qual em alguns pontos se arrependeu depois. Para revelar o "outro lado" desse consagrado crítico e eminente catedrático da USP, Vinicius Dantas e a Editora 34 trouxeram à luz "Textos de intervenção" e "Bibliografia de Antonio Candido"; afinal, um homem é muito mais que seu livro mais importante. Os dois volumes, elegantemente acondicionados num "box", estão aí para compor um retrato mais acurado do intelectual. Em "Bibliografia", todo o "opus" de Antonio Candido, mapeado por data e por periódico, recheado de ilustrações e fotos, em mais de 270 páginas. Em "Textos de intervenção", um conjunto de peças significativas, agrupadas em quatro seções: Direções, Argumentos, Conduta e Conjuntura - de acordo ao tema, em quase 400 páginas. O percurso começa com o jovem crítico, em sua estréia na "Folha da Manhã", aos 25 anos, em 1943, assinando uma carta de princípios na coluna "Notas de Crítica Literária". Segue adiante com artigos e ensaios, também participações em eventos relacionados à literatura latino-americana, desembocando em esclarecedoras entrevistas, como a que concede a Beatriz Sarlo (refutando "Formação", a essa altura já um livro clássico). Continua com mais "Notas", os juízos acertados sobre poesia (revelando, por exemplo, João Cabral de Melo Neto), um passeio pelo simbolismo francês, o reconhecimento providencial de Guimarães Rosa e o prefácio às memórias de Oswald de Andrade. Da metade para o fim, os mergulhos em sociologia e política, a defesa de sua geração (a de 1930), a participação em periódicos clandestinos e as polêmicas com Miguel Reale. Nem é preciso dizer que, apesar da intenção abrangente e histórica, a coletânea fundamentalmente se afirma pelos escritos sobre literatura. Entre os maiores pecados da crítica brasileira, encontramos: a importância desproporcional dada à ideologia; o julgamento excessivamente condescendente para com a produção nacional; e uma inclinação basicamente acadêmica ao hermetismo. E se, mesmo nos trabalhos dos maiores críticos brasileiros, esses traços estão presentes, é porque ainda há muito que se fazer pelo legado que se seguiu à carta de Pero Vaz. Mãos à obra.
>>> "Bibliografia" e "Textos de intervenção" - Vinicius Dantas e Antonio Candido - 678 páginas - Editora 34
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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