Sexta-feira,
15/11/2002
Déchirée
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 108 >>>
Está chegando às livrarias um pequeno volume de bolso sobre "Rembrandt". Assinado por Jean Genet e traduzido por Ferreira Gullar, sai agora pela José Olympio. Um pouco tarde para a exposição de desenhos do pintor holandês (que se encerrou no início do mês). Mas, mesmo assim, são 100 páginas de leitura imprescindível. Pelo menos para quem se interessa pelo autor dos auto-retratos mais célebres da História. O livro em si tem uma trajetória interessante. Anunciado para ser uma obra de monta, acabou em pedaços, por ordem do próprio Genet. Abalado pela morte de um amigo próximo, resolveu retalhar uma mala inteira de manuscritos. Da poda rembrandtiana, restaram apenas os extratos publicados na revista "L'Express" e dois fragmentos. Um deles com um título bastante sugestivo: "O que restou de um Rembrandt cortado em pequenos quadrados bem regulares, e jogado na privada". Aspectos tragicômicos à parte, o livrinho é sério e bem escrito (na linguagem dos poetas, como afirma Wilson Coutinho). Sem qualquer rigor academicista, para embalar o leitor da primeira até a última frase. Ricamente ilustrado, encadernado com papel de primeira linha, o volume traz todas as cenas descritas por Genet. A partir dos auto-retratos, dos retratos de Hendrickje Stoffels e Margaretha de Geer, e também dos registros delicados de Saskia, o dramaturgo estabelece seu percurso. Explora mais demoradamente a ruptura que se deu com a morte da esposa de Rembrandt, desconectando o homem do mundo exterior. Narra igualmente experiências pessoais suas, que evocariam aquele olhar absorvente, visto nas telas. Os motivos bíblicos têm também o seu espaço, mormente em "O retorno do filho pródigo". Os desenhos, esboços e estudos encerram a edição. Revisitar os mestres, ainda que de maneira breve, é sempre um alívio.
>>> "Rembrandt" - Jean Genet - 88 págs. - José Olympio
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Julio Daio Borges
Editor |
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