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Quinta-feira, 12/12/2002
Goldfinger

Julio Daio Borges




Digestivo nº 112 >>> Hóspede nos melhores hotéis do mundo. Irresistível até para as mais belas mulheres. Extraordinariamente hábil com armas e máquinas. Objeto do investimento (em tempo e em dinheiro) de organizações ultra-secretas. Ainda por cima, herói das telas. Um currículo desse é de causar inveja ao homem médio. Ou não é? Isso explica metade do sucesso do 007. As limitações no trabalho e na vida real convencem o indivíduo de que ele nunca vai ser um agente secreto, um dom juan, infalível, com diamantes para dar e vender. Então entra no cinema e sublima todas as suas fantasias numa sessão de James Bond. Ah, mas essas constatações são óbvias demais para quem já as teve na cabeça. A novidade é que - mesmo assim (ou seja: mesmo com todo esse apelo, primaríssimo) - o último 007 convence, e até merece que se diga: "Olha, é toda aquela baboseira de mocinho e bandido de sempre, com os exageros incluídos - mas não é que a droga do filme conseguiu me prender?". Talvez valha a pena tentar explicar por que. Primeiro, pelos milhões de dólares. Está na cara que há interesse em reerguer o decadente personagem de Ian Fleming. Tudo bem, ele ainda é protagonizado pelo canastrão Pierce Brosnan: seu charme se converteu em vulgaridade e seus truques não convencem nem o espectador de "Xuxa e os Duendes" (2). A diferença é que, nesse episódio, o estúdio soube capitalizar em cima de todas essas deficiências. Mandou o cara para a Coréia do Norte, para Cuba e para a Sibéria - e fez de "Die Another Day" (esse é o título) uma mistura de "Discovery Channel" com seção turismo da revista "Nova". Depois, enfiou a Madonna no meio (a rainha do pop cujo toque de midas só não levanta a bola do marido-cineasta, Guy Ritchie). Ela compôs a música tema e participou do longa como esgrimista. Mais para frente - já que todos estão carecas de saber que aqueles absurdos de salvar o mundo com um pé nas costas não podem ser mesmo -, o diretor decidiu fazer piada com a coisa toda. Os diálogos são dignos de uma paródia de 007, ou de uma auto-paródia (só que bem feita). O roteiro, a qualquer momento, ameaça descambar para o hilariante. Ainda mais quando John Cleese, do Monty Python, como Q, invade a cena. Por fim, o carro invisível, o helicóptero que levanta vôo caindo de um avião, o pára-quedas que emerge de um precipício, o piloto de provas que escapa de um laser espacial - tudo isso - vira elemento para a comédia. Complementada, sempre, com altíssima tecnologia. Talvez não seja mesmo o entretenimento dos nossos sonhos - mas que dá para tirar uma lasquinha, dá.
>>> Die Another Day
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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