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Sexta-feira, 10/1/2003
Terra estrangeira

Julio Daio Borges




Digestivo nº 116 >>> Quem conheceu Walter Salles só a partir de "Central do Brasil" (1998) vai tomar um susto. Estamos falando do ciclo de documentários em exibição no Centro Cultural Banco do Brasil, de 14 a 26 de janeiro, dedicado a Waltinho e seu irmão, João Moreira Salles. Com curadoria de Amir Labaki (o homem por trás do festival "É Tudo Verdade"), a mostra faz um generoso apanhado: desde as primeiras produções para a tevê, no final da década de 80, até as últimas para cinema, no final dos anos 90 e início dos 2000. Há, portanto, desde a trilogia "Japão" (1986), "China" (1987) e "América" (1989) até "Notícias de Uma Guerra Particular" (1999) e episódios da série "6 Histórias Brasileiras" (2000). Embora seja sensível, a intenção que permeia mais de quinze anos de trajetória, da televisão à Sétima Arte, não se deixa facilmente traduzir em palavras. Para quem assistiu apenas aos longas de Walter Salles, há uma inclinação manifesta em mostrar o "outro lado" do Brasil, "o Brasil que o Brasil não conhece" - a mesma que aflora em, por exemplo, "Franz Krajcberg: O Poeta dos Vestígios" (1987), segundo o curador, um divisor de águas, onde os Irmãos Salles denunciam as décadas de desmatamento a que o País permaneceu cego e calado. Uma atitude que se reflete não só na abordagem de temas nacionais, mas também na discussão de problemáticas globais. É exemplar, nesse sentido, "América", que retrata de modo pouco lisonjeiro os Estados Unidos da América do Norte. Os Salles sustentam, assim, um discurso, coerente, mas que às vezes beira a militância, e até a histeria - contra os velhos demônios que assombraram a esquerda: a revolução industrial; a sociedade de massas; o império da mídia; etc. Se tecnicamente cada uma dessas realizações deixou sua marca, em termos de conteúdo, mais de uma década depois, perderam muito do ar de novidade. Os Irmãos Salles certamente estavam à frente de seu tempo, no sentido de que suas idéias são hoje um lugar-comum consagrado. Mas também, lamentavelmente, no sentido de que já estão até um pouco ultrapassadas. Enfim, concordando ou não, gostando ou não, já escreveram seus nomes nos anais da cinematografia nacional - o que, por si só, justifica revisitá-los.
>>> Irmãos Salles
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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