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Segunda-feira, 24/2/2003
O marchand das vaidades

Julio Daio Borges




Digestivo nº 122 >>> Se o Brasil teve Pietro Maria Bardi e Assis Chateaubriand, os Estados Unidos tiveram Joseph Duveen ou lorde Duveen de Millbank. No Brasil, Bardi e Chateaubriand nos legaram o Masp, com sua coleção mundialmente respeitada: o primeiro coordenando as aquisições; o segundo extorquindo os milionários brasileiros. Se as origens do Museu de Arte de São Paulo não são as mais nobres e exemplares, o resultado paira acima de qualquer consideração moral. Nos Estados Unidos, porém, Duveen foi mais longe. Com um faro inigualável para obras-de-arte (tinha olheiros por toda a Europa e recusava-se a adquirir qualquer coisa posterior a 1800), revolucionou o gosto do país, seduzindo os magnatas de uma Nova York do início do século (XX) e vendendo-lhes o imponderável: a imortalidade. Duveen, um amante incondicional das artes plásticas (nem o câncer prejudicou seu comércio), domesticou nomes como J.P. Morgan, William Randolph Hearst, Andrew Mellon, Henry Clay Frick e Samuel Henry Kress, tirando-lhes milhões de dólares do bolso e legando ao povo americano coleções (como a "Frick") e a National Gallery de Washington. Quem nos conta a sua trajetória de mil e uma peripécias, que lhe rendeu a alcunha de "o maior marchand da História", é S.N. Behrman, que tem o seu "Duveen" traduzido para o português por Renato Rezende e impecavelmente editado, no Brasil, pela Bei. Embora envolvido pelo turbilhão de fim de ano, o livro foi certamente um dos mais importantes de 2002. A prosa de Behrman é não menos que deliciosa e, ao contrário da maioria dos volumes que nos caem no colo, ficamos torcendo para "Duveen" não acabar. Cada capítulo desvenda uma faceta desse homem brilhante: desde os primeiros passos na loja de móveis da família (em Londres), e na galeria de tio Henry (seu antecessor em Nova York), até o estabelecimento de sua própria galeria (na Quinta Avenida), até praticamente o monopólio de todo o comércio de obras-de-arte nos Estados Unidos da América. De quebra, contamos com algumas aparições do singularíssimo Bernard Berenson (os dois mantinham relações profissionais). No fim, "Duveen" transborda inteligência, charme e sofisticação. Lê-lo é mais que uma necessidade: é um imperativo de civilização.
>>> Duveen - S.N. Behrman - 306 págs. - Bei
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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