Terça-feira,
7/11/2000
Se ainda existe algo de Filosofia, ou tudo acaba em erudição
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 8 >>>
Heidegger, de Rüdiger Safranski, acaba de sair em português, com tradução da escritora Lya Luft. Biógrafo experimentado, Safranski já se aventurara por Nietzsche e Schopenhauer, antes de explorar o politicamente controvertido Martin Heidegger. A tradutora, por sua vez, revela certa inexperiência com o sujeito: ao verter conceitos como o de "eterno retorno" em imprecisões como "eterna volta do mesmo"; ao chamar a obra de Oswald Spengler, ora de "Declínio do Ocidente", ora de "Queda do Ocidente"; ou ainda, ao rebatizar a "Ásia Menor" com o codinome de "Ásia Pequena". Deslizes à parte, tem-se a trajetória intelectual de Heidegger desde a sua iniciação no Catolicismo até os seus últimos dias em Messkirch, passando pela Fenomenologia, passando por Edmund Husserl, passando por Hannah Arendt, passando por Karl Jaspers, passando pelo "Ser e Tempo", passando pelo no Nacional-Socialismo e pela reitoria de Freiburg, os anos mais nefastos do biografado. Como Platão, Heidegger também teve a sua Siracusa, e dela não se recuperou jamais. Reergueu-se, parcialmente, numa Alemanha destroçada, graças a consagração internacional e à atenção que despertou em homens como Sartre e Camus. De terminologia pesada e raciocínios intricados (que nem sempre funcionam), o volume exige fôlego e dedicação além do normal. Funciona mais como iniciação ao círculo e ao entorno de Heidegger do que como introdução à filosofia do mesmo.
>>> "Heidegger" - Rüdiger Safranski - 518 págs. - Geração Editorial
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Julio Daio Borges
Editor |
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