Quinta-feira,
16/10/2003
Isn’t it a bliss, don’t you approve
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 146 >>>
Esta é para quem ainda acha que São Paulo não tem uma das melhores temporadas de concertos do mundo. No início de outubro, via Mozarteum Brasileiro, estiveram nesta capital o regente Eiji Oue e o clarinetista Paul Meyer. Quem são esses dois? Eiji Oue foi nada mais nada menos que “protégé” de Leonard Bernstein, um dos maiores maestros do século XX, e Paul Meyer, amigo de um certo Benny Goodman, mestre do clarinete que levou o jazz, em 1938, para as salas de concerto (começou pelo Carnegie Hall). E para quem considera os preços da Sala São Paulo proibitivos, vale lembrar que eles, mais a Orquestra Filarmônica da Rádio de Hannover (NDR), apresentaram-se ainda – gratuitamente – no Parque do Ibirapuera. Foi um show. São Paulo poucas vezes se divertiu tanto com a condução espirituosa de Eiji Oue, que rebolava escandalosamente durante o bis, ao comandar a execução de “Rondò Alla Turca”, de Mozart; e que, cansado de tantas idas e vindas (foram três as “canjas”), apontou para o relógio, juntou as duas mãos e pôs a cabeça de lado – indicando, delicadamente, que já era tarde e que sentia sono. Foi incansável, não apenas ao atender aos aplausos do público, mas ao executar a monumental “Sinfonia fantástica” (op.14), de Berlioz, em cinco movimentos. Isso depois de quase flutuar, ao lado de Paul Meyer, durante o “adagio” do “Concerto para clarinete em lá maior” (K. 622), também de Mozart. Encerrado esse número, os dois não puderam acreditar: foram ovacionados como “rock stars” – e não por qualquer platéia, mas pelos assinantes do Mozarteum Brasileiro. Antes do intervalo, Meyer não se furtou a conceder um “choro”, e chacoalhou mais uma vez suas melenas ao abordar “Send In the Clowns”, de Stephen Sondheum. Como diziam os Andrades no começo do século (acerca do Brasil), os paulistanos, além de acreditar que a temporada de música clássica “existe”, precisam também “vivenciá-la”. Então ela florescerá; ainda mais.
>>> Mozarteum Brasileiro
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Julio Daio Borges
Editor |
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