Sexta-feira,
30/1/2004
Revelations
Julio
Daio Borges
|
Digestivo nº 160 >>>
Você provavelmente vai assistir a “21 gramas”, de Alejandro González Iñárritu, e não vai entender nada até a metade. Então alguém vai soprar no seu ouvido: – “O filme vai e volta no tempo; preste atenção”. Ah, agora, sim. Não é o David Lynch que você pensava; onde todo mundo sai sem entender nada (quando simplesmente não abandona a sala no meio da projeção). Mas as idas e vindas não são a tônica de “21 Gramas” (como foram, por exemplo, nos longas de Quentin Tarantino; o “flashback” – que Paulo Francis, quando não dormia, dizia que era um recurso mais velho que Orson Welles). Enfim. “21 Gramas”, segundo nos explica Sean Penn (um dos protagonistas), é o quanto perdemos de peso no instante em que morremos. (“Como eles pesam isso?”, você pode legitimamente perguntar.) O fato é que a primeira produção de Iñárritu, depois de “Amores Brutos” (2000), gerou grandes expectativas. Também pela atuação de Penn (sempre imperdível) e de Benicio Del Toro, o “coadjuvante” que, devagar, vai se consagrando. O que cansa é a (já) velha incursão no “mundo cão” – uma moda que contagiou todos os cineastas metidos a sérios (antigamente, os “engajados”); principalmente os do Terceiro Mundo. González Iñárritu é do México. Então mergulhamos, pela enésima vez, no crime, nas drogas, no submundo em geral. Benicio Del Toro é um ex-detento tentando se recuperar; Sean Penn, um pobre diabo, vivendo com um coração emprestado, enquanto se apaixona pela viúva do doador (Naomi Watts, uma mãe de família destroçada, alternando-se entre aulas de natação e noitadas com barbitúricos). Bem, já deu para sentir... o clima. Tanto que decidimos sugerir aos exibidores: – Que tal uma nova classificação, baseada, exclusivamente, nas cenas de violência? Assim, oscilaríamos menos entre a Hollywood, dos blockbusters e dos desenhos “à la” Walt Disney, e a “vanguarda”, que ainda não se cansou de “épater les bourgeois”...
>>> 21 Grams
|
|
>>>
Julio Daio Borges
Editor |
|
|