Segunda-feira,
9/2/2004
Brincadeira tem hora
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 161 >>>
Ninguém sabe direito quando (nem como) mas, de repente, Zeca Pagodinho virou “mainstream”. E ganhou “Acústico MTV”. E ganhou “Perfil do Rio” (pela Relume Dumará). Ambos merecidos. Quem assistiu ao documentário de Izabel Jaguaribe sobre Paulinho da Viola, sabe do que estamos falando. A chegada na propriedade de Pagodinho, no Xerém (a 40 km do Rio), em que se executam sambas num clima raro de confraternização, é um dos pontos altos de “Meu Tempo é Hoje” (2003). Sérgio Augusto já o havia incluído no seu conceito de “elite”, mas, além de ter ascendido às altas esferas, Zeca Pagodinho, ou Jessé Gomes da Silva Filho (n. 1952), é um bem-sucedido exemplo de como manter a ligação com as raízes (apesar do sucesso). Embora tenha começado junto com a turma do Fundo de Quintal (incluindo aí Jorge Aragão, Almir Guineto e Jovelina Pérola Negra), graças a um empurrão de Beth Carvalho (em 1985, na RGE), Pagodinho se manteve como um símbolo de longevidade no meio do samba (afinal, a boemia, entre outras coisas, cobra o seu preço – que é alto). Hoje, depois de algumas décadas, e de ter sobrevivido a si mesmo, o autor de tantos partidos-altos tem uma função social. De Zeca Pagodinho dependem algumas dezenas de compositores que, a cada novo álbum, passam por um rigoroso processo de seleção, para tirar a sorte grande: ser gravado por ele rende, no mínimo, R$ 30 mil na conta. E alguma imortalidade, é claro. Mas Pagodinho, esse aquariano de 4 de fevereiro, custou a acreditar que era “o cara”. Ao estrear com LP solo (“Zeca Pagodinho”, em 1986), e vender, de saída, mais de um milhão de cópias, confessou a um amigo, já cansado de tantas glórias: – “Tão me perturbando muito. Vou voltar pro bicho”. Não voltou, é óbvio. Mas passou por maus bocados, quando, abandonado pela RCA/BMG, não chegou a vender mais que 15 mil cópias. Atualmente, voltou à casa do milhão, mudou-se para a Barra (quis garantir, aos seus filhos, o estudo) e foi até convidado para animar o desanimado Governo Lula. O “Acústico MTV” está aí, para quem quiser conferir, varrendo toda a discografia. E o livro, escrito por Luiz Fernando Vianna, de 125 páginas, vale a sentada.
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Julio Daio Borges
Editor |
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