Sexta-feira,
13/2/2004
Hell’s Angels
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 162 >>>
Stanley Jordan já perdeu a conta de quantas vezes veio ao Brasil. E o Brasil, também (de quantas vezes já o assistiu). Ultimamente foi no Via Funchal (em São Paulo; fora Rio das Ostras, Fortaleza e o próprio Rio). A novidade: um maior entrosamento com os músicos brasileiros (que o acompanharam), e uma súbita “brasilidade” que o lançou em discursos inflamados em favor de nosso País. Stanley Jordan fez questão de reafirmar o poder “curativo” da música daqui, baseando-se na sua própria experiência (o ainda inédito CD “Relaxing Music for Difficult Situations, I”, que, embora tenha sido composto por ele, salvou-o de uma dor de dente). Folclore à parte, pudemos presenciar o saudável “duelo” que travou com Marcos Nimrichter (o pianista oficial do “Jobim Sinfônico”), depois de uma abertura um tanto quanto esquizofrênica de Sérgio Dias (o mesmo dos Mutantes, que, em alguns aspectos, parou no rock progressivo). Numa casa de espetáculos abarrotada, Jordan calou a platéia com suas versões para guitarra de peças de Bach, Béla Bartók e Mozart (especialmente o segundo movimento do 20º concerto para piano deste último). Nimrichter, enquanto isso, assumiu o acordeom na releitura que fizeram de “Insensatez” (Tom Jobim), convertendo-a num tango e exercitando o seu lado Piazzolla. Foi um dos pontos altos do show. Atacaram ainda de John Coltrane e de Beatles (Jordan solo: “Eleanor Rigby”, já conhecida dos paulistas, e “Imagine”, que arrancou aplausos comovidos). Para completar, havia, no ar, um denso clima de nostalgia; como se todos, ali, estivessem órfãos da figura do “guitar hero”, e ela tivesse, momentaneamente, ressurgido. Na porta, hordas de roqueiros (sim, roqueiros) repassavam a “escalação” de suas bandas preferidas – enquanto sobreviventes de Woodstock (ou contemporâneos do festival original) dividiam mesas e melenas com seus filhos. A aura “rock’n’roll” insistia em contrastar com a intenção “jazzy” (e erudita) de Stanley Jordan. Na disputa: ou saíram eles elevados de nível; ou saiu ele, com uma concessão (“Stairway To Heaven”, que eles sofregamente pediam).
>>> Stanley Jordan | Via Funchal
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Julio Daio Borges
Editor |
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