Terça-feira,
21/11/2000
Jamais se ouve uma palavra gentil, só e sempre censuras
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 10 >>>
Finalmente, podemos dizer que temos uma tradução d'O Castelo, de Kafka. Modesto Carone empreendeu, com precisão impecável, a versão do livro mais alentado e intricado do autor d'A Metamorfose. A leitura é, portanto, dolorida, penosa, por vezes, exasperante. K., o agrimensor, perde-se no labirinto de relações que norteiam a vida dos habitantes da aldeia, oprimidos pela administração do castelo. Apesar de suas quase 500 páginas, o manuscrito de 1922 chegou inacabado até nós. Fica impossível prever-lhe o desfecho, pois a narrativa se desdobra em novas e enredadas surpresas a cada capítulo. A influência de Kafka pode ser sentida em toda a literatura do século XX. Para o caso d'O Castelo, notadamente ecoa em toda a estrutura e concepção de 1984, romance seminal de George Orwell. No Brasil, Diogo Mainardi parece emular, como ninguém, a mesma ironia fina, a mesma indiferença, o mesmo desprezo. Kafka previu toda a catástrofe que se abateria sobre a humanidade contemporânea: filha do totalitarismo e da chamada opressão numérica. Espectador da Primeira Guerra Mundial, assistiu ao massacre que esmagou homens como moscas, sempre em nome de um poder central, impessoal, desumano. Seu esforço é o de representar essa realidade, onde os moralmente fortes nem sempre se impõem.
>>> "O Castelo" - Franz Kafka - 488 págs. - Cia. das Letras
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Julio Daio Borges
Editor |
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