Sexta-feira,
9/4/2004
Um Trono em Minha Alma
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 170 >>>
São Paulo fez 450 anos em janeiro, mas nem todo mundo conseguiu processar a efeméride em todos os seus desdobramentos. Um deles foi o livro “A capital da solidão”, de Roberto Pompeu de Toledo, lançado já no ano passado (é verdade), pela editora Objetiva. O autor, também colunista de “Veja”, publicou a mais divertida e informativa crônica sobre a cidade nos últimos tempos. Parte das origens, como indica o subtítulo, revisitando Manuel da Nóbrega, José de Anchieta, João Ramalho, Bartira e Tibiriçá, para desembarcar nos primeiros anos do século XX, quando Oswald de Andrade se enroscava com Isadora Duncan, Ramos de Azevedo conferia nova feição à capital da província e Joaquim Eugênio de Lima concebia a emblemática Avenida Paulista. A tese de Roberto Pompeu de Toledo, lançada logo na introdução, é a de que São Paulo poderia ter falhado como cidade – dado o seu isolamento (a quase intransponível barreira da Serra do Mar, que desanimou os portugueses mas que encorajou os jesuítas). A Vila de Piratininga, que nasceu das disputas entre padres e índios, poderia ter ficado só nisso – mas lançou as “bandeiras” que praticamente descobriram as Minas Gerais; foi entreposto entre o café, do Vale do Paraíba e do interior do (hoje) estado, e o porto de Santos; abrigou uma das primeiras faculdades do País (a de Direito do Largo São Francisco); capitaneou a industrialização e adquiriu importância política ao formar algumas das principais lideranças a partir do século XIX. Como aquele povoado estabelecido às margens do Anhangabaú resultou nesta frenética metrópole – é a pergunta que Pompeu de Toledo indiretamente responde ao longo de mais de 500 páginas. Sua prosa é saborosíssima, misturando dados e informações colhidas em vasta bibliografia com observações argutas e bem-humoradas – como se nos arrastasse para um bate-papo sobre essa cidade com quem convivemos diariamente, mas que conhecemos tão mal. Compreender como ela veio se arrastando desde o Pátio do Colégio, até a Rua Direita, até a Barão de Itapetininga, passando pela Praça da República, subindo a Consolação, espalhando-se por Higienópolis, fixando-se na Paulista (para descer, de novo, do lado oposto) é muito mais que matar uma curiosidade histórica: é também dar o primeiro passo na direção de uma megalópole mais habitável.
>>> A capital da solidão - Roberto Pompeu de Toledo - 560 págs. - Objetiva
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Julio Daio Borges
Editor |
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