busca | avançada
193 mil/dia
1,9 milhão/mês
Segunda-feira, 3/5/2004
Experiência privada e explicação pública

Julio Daio Borges




Digestivo nº 173 >>> A primeira associação que se faz à Alemanha do começo do século XX é com Hitler, o Nazismo e o Holocausto. É inevitável. Fritz Stern, porém, enxerga nesse período algo além do país entre guerras — ele vê, nesta mesma Alemanha, uma "Geniezeit", ou uma era do gênio. A mesma (guardadas as devidas proporções) que acometeu a terra de Goethe durante o Romantismo alemão. Só que com realizações no reino das ciências em geral, e não apenas no mundo das artes. Dele, a Companhia das Letras traduziu há pouco tempo "O Mundo Alemão de Einstein" (1999), com cinco ensaios biográficos mais alguns textos esparsos. Lá obviamente está o Pai da Relatividade, sempre uma fonte inesgotável de "insights" sobre o período, num encontro com Fritz Haber, pai da síntese do amoníaco e um dos maiores químicos do último século. Ao contrário de Einstein, que foi terrivelmente lúcido em meio ao delírio belicoso germânico, Haber, que sempre acreditou cegamente na autoridade do Estado, concentrou todas as suas energias no esforço de guerra e, naturalmente, pagou o preço depois. O que Stern mostra, na verdade, em seu livro, é que, na Alemanha guilhermina do kaiser, a linha entre o "bem" e o "mal" se mostrou bastante tênue — e muitas outras mentes brilhantes erraram de lado entre 1914 e 1945. Walther Rathenau, por exemplo: o homem que foi negociar com os Aliados depois da derrota na Primeira Guerra seria, na seqüência, assassinado — graças a uma capacidade eloqüente de mudar de posição para perseguir objetivos, às vezes, fatais. Além de Paul Ehrlich (o sujeito por trás da quimioterapia), Stern se debruça ainda sobre Chaim Weizmann, virtualmente o criador do Estado de Israel em 1948. Weizmann, inconformado em ser cidadão de "segunda classe" na Alemanha anti-semita, levou a causa sionista até os Estados Unidos e à Inglaterra, que, com a benevolência dos vencedores, "indenizaram" as vítimas do Holocausto. O século XX, que foi o século dos EUA (ninguém tem dúvida), poderia ter sido o século da Alemanha — diz Raymond Aron na introdução. E se a interação entre ciência e arte continua muito em moda nos tempos atuais, nada como estudar a vida de grandes cientistas talhados no mais puro humanismo — o humanismo germânico.
>>> O Mundo Alemão de Einstein - Fritz Stern - 410 págs. - Companhia das Letras
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

busca | avançada
193 mil/dia
1,9 milhão/mês