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Segunda-feira, 24/5/2004
Faux pas

Julio Daio Borges




Digestivo nº 176 >>> Alexandre Soares Silva se consagrou, na internet, como dândi. Essa figura do século XIX, que Oscar Wilde foi, e que projetava a imagem de aristocrata esnobe, patrono das “decorative arts”, cheio de “witty” e apaixonado por uma disputa (pelo simples prazer da disputa). Mas, antes disso, Alexandre Soares Silva se apresentou como escritor, como o autor de “A Coisa Não-Deus” (Becca, 2000) – um livro de título difícil, que não foi imediatamente lido. Em março último, mais uma vez, investiu nas letras: “Morte e Vida Celestina”, lançado pela editora Candide. Então seus leitores de internet, entre eles Geneton de Moraes e Diogo Mainardi, ficaram se perguntando que tipo de escritor era Alexandre Soares Silva. E a resposta veio: o mesmo dândi virtual. Com uma diferença: se na World Wide Web os seus alvos são os nossos contemporâneos, suas vulgaridades e seus ataques de mau gosto, na literatura, Alexandre criou um mundo fantasioso, uma “realidade” que se situa no paraíso, para mandar – de lá – os seus recados críticos. Suas duas obras, que formam uma seqüência, são de um escritor hábil, criativo e cheio de recursos – infelizmente, porém, misturam gêneros que poderiam funcionar muito melhor separados. Traduzindo: Alexandre deveria insistir na sua crítica social, ferina, e até compor sátiras; mas que abordassem diretamente, e sem rodeios, esta nossa época. Alexandre deveria continuar com seus romances infanto-juvenis, de detetive inclusive, mas poderia simplificá-los, com menos citações eruditas e com menos nomes de intrincada pronúncia. Alexandre Soares Silva é – em suma – muito capaz como artífice, e ninguém duvida que ele seja um dos maiores talentos de sua geração (pelo menos, na Web), mas poderia ser menos ambicioso ao tentar dizer “tudo” em um ou dois livros. Como tem uma obra pela frente, deveria se exercitar em categorias estanques como, por exemplo, “crítica de costumes”, “ensaísmo” e “romance policial” – cada uma a seu tempo, e cada uma em um livro. Os leitores agradeceriam, e o verdadeiro escritor, que está por detrás do dândi, enfim surgiria.
>>> Morte e Vida Celestina - Alexandre Soares Silva - 164 págs. - Candide
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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