Sexta-feira,
9/7/2004
Um conto de fadas
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 183 >>>
Na temporada do Mozarteum Brasileiro, sempre há uma apresentação onde o concerto é mais robusto, exigindo da platéia concentração e atenção fora do normal. Por longas horas. Não é, certamente, “para qualquer um”. Assim foi com a Bamberger Symphoniker, que em 2003 apresentou a 9ª Sinfonia de Schubert, uma obra de mais de 40 minutos, composta em seu “annus mirabilis”. Executada, evidentemente, sem intervalos. Agora, em 2004, é muito possível que nada supere, nesse sentido, a apresentação da National Polish Radio Symphony Orchestra, acompanhada pelo violonista Boris Belkin, no final do mês de junho. Quem assistiu à segunda sessão, atravessou o dilacerante “Concerto para violino nº 1”, de Bruch, e a incomparavelmente densa “Sinfonia nº 6”, de Bruckner. Como explicaria Sérgio Igor Chnee, em sua palestra introdutória (no “Clube do Ouvinte”, aberto a todos desde o início do ano), Bruckner reverenciava Wagner – e se este tivesse composto sinfonias, estas seriam as de Bruckner. Já do concerto de Bruch, conhece-se a clássica gravação de Isaac Stern, que vinha acondicionada em luxuosos estojos, até antes de sua morte (2001). O violino metaforicamente “grita” no “alegros”, mas proporciona, ao mesmo tempo, enlevos inesquecíveis no tempo “lento”, no caso, o “adagio”. Belkin, que se descabelou nos instantes mais agitados e que quase flutuou nos mais calmos, cumpriu brilhantemente a função. Tornando, aliás, este ano pródigo em violinos e virtuoses. Já Gabriel Chmura, o regente, que manteve a tensão do “majestoso” até o “finale”, em Bruckner, esquentou os motores na comparativamente suave abertura de Stanislaw Moniuszko, de aparentemente ínfimos 12 minutos. No fim, o peso sinfônico de Bruckner eclipsaria tudo – dentro da escola que fez, do gênero, um “tour de force”, poucas vezes exibido, assim, no Brasil. (E pensar que, antes do começo da temporada, tivemos a 9ª de Mahler – que, por alguma razão, não arrastou a emoção do público como agora, embora tenha sido corretamente executada.) E olhando na programação do resto do ano, talvez só o “Messias” de Haendel apague a marca que esses poloneses maravilhosos.
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Julio Daio Borges
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