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Quarta-feira, 1/9/2004
Amado amo

Julio Daio Borges




Digestivo nº 190 >>> Rosa Montero foi uma das escritoras que despertou mais simpatia na última Festa Literária Internacional de Parati. Sobrevivente dos anos 60, quando amadureceu na Espanha sob a ditadura franquista, provavelmente guardava o carisma das figuras que brilharam em sua geração. Não era popular no Brasil, mas tornou-se popular em Parati – e praticamente monopolizou as atenções na mesa que dividiu com Isabel Fonseca (Sra. Martin Amis) e Adriana Lisboa (Prêmio José Saramago de 2003). Na volta, muitos devem ter mergulhado em “A louca da casa”, livro que então lançava pela Ediouro e que já havia sido recomendado por Mario Vargas Llosa. O volume, de quase 200 páginas, é um jardim das delícias para escritores e aspirantes – estes seres que podem passar incontáveis horas apenas discorrendo com paixão (amor/ódio) sobre seu trabalho. Até para entendê-lo; até para aceitá-lo. Como resumiu o mesmo Martin Amis, constantemente citado pela autora: “Não podemos negar o fato de que muitos livros são, também,... sobre outros livros”. Montero, no entanto, não pretende compor um tratado sobre o assunto, e passeia descompromissadamente por grandes autores e grandes obras. Ao mesmo tempo em que mistura gêneros. Por exemplo, não perdoa Goethe, por haver sucumbido às tentações a aos apelos de Weimar – como o censurou também Ortega y Gasset. Por outro lado, a escritora sente compaixão pelos escritores fracassados; pelos incompreendidos em sua época (Herman Melville); e até pelos que atingiram o céu e logo depois desceram aos infernos (Truman Capote). Como muitos de seus colegas, ela prefere “ler” a “escrever” (e lança o dilema – como se, numa situação hipotética, todo escritor fosse obrigado a optar). Conclui que se escreve contra a morte e que, num futuro distante, estaremos todos – além de mortos – olvidados. Concomitantemente, mistura capítulos inteiros sobre reminiscências pessoais. Sobre sua irmã Martina e sobre um (re)encontro com uma paixão de juventude, que gerou um grande mal-entendido. Não existe perdão para quem se entrega à escrita, mas alguns desconfortos podem ser momentaneamente ignorados quando se lança um olhar no espelho de Rosa Montero e de outros “conterrâneos”...
>>> A louca da casa - Rosa Montero - 196 págs. - Ediouro
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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