Quarta-feira,
8/9/2004
1954: o ano que não terminou
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 191 >>>
Getúlio Vargas, hoje, é mais lembrado como o nome de uma fundação (a FGV) do que como qualquer outra coisa. Os especiais, dos 50 anos de sua morte, devem ter servido, portanto, para pescar um leitor ou outro e mostrar que aquela figura enigmática ultrapassou os livros de História e gera debates acalorados mesmo na atualidade. Foi uma época muito rica e definidora, para o Brasil do século XX. Em matéria de jornalismo, então, como não invejar um tempo em que se tinha Samuel Wainer de um lado e Carlos Lacerda do outro – talentos indiscutíveis, tanto para entusiastas da “Última Hora” quanto para apoiadores da “Tribuna da Imprensa”. E, por mais que se reclame da cobertura atual, do suicídio de Vargas em 1954, houve bons momentos. A começar pelo dossiê da revista “Nossa História”, que tem discutido exemplarmente os mais diversos temas, mês a mês, embora não seja um fenômeno de mídia (pois, no Brasil, nenhuma publicação verdadeiramente séria é – apesar de sua importância). Nela, Villas-Bôas Corrêa colocou os pingos nos “is” e chamou a atenção para o que se preferiu esquecer no recente enterro de Leonel Brizola: Getúlo não tinha ideologia definida e, como lembrou o “Estadão”, sempre foi anticomunista e extremamente pragmático. Como o caderno especial de “O Estado de S. Paulo”, aliás, mostrou, Vargas soube, antes de tudo, jogar com a esquerda e com a direita, e não deixou sucessores, pois João Goulart, o primeiro a seguir sua “escola”, caiu do cavalo na ambivalência e fomentou o golpe de 1964. Já a “Folha”, seguindo sua tendência pluralista, publicou um elogio descabido de Carlos Lessa (como apontou Ruy Mesquita, acusando Getúlio de ditador e ponto), consultou o ministro Palocci, sobre o legado do Pai dos Pobres no PT, e colocou Danuza para fazer colunismo social. Ela, casada então com Wainer, anotou que o pessoal da UDN (que fazia oposição a Vargas e precipitou o tiro de misericórdia) era uma gente “feia, suja e malvada”. Como se vê, as paixões seguem no ar. E foi divertido mergulhar num torvelinho de 50 anos atrás. Que venham mais.
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Julio Daio Borges
Editor |
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