Segunda-feira,
8/11/2004
Roll over Beethoven
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 200 >>>
Mozart, que ficou conhecido por elevar o piano a outro patamar, talvez tivesse gostado das versões acústicas que Alex Masi gravou de suas composições. Masi, um músico egresso do universo pop rock, não resistiu ao tentar tornar o grande compositor de Salzburg ainda mais palatável e optou por alguns trechos, ou movimentos, em vez de interpretar peças inteiras. Ouve-se uma guitarra e o que parece ser um baixo e/ou uma guitarra base. Todo mundo sabe que a proposta de qualquer acústico é utilizar instrumentos, “desplugados” ou não-eletrificados, mas, além da forma ter se tornado mais maleável, a completa ausência de efeitos nas cordas de Masi evoca uma execução de câmara – se é que isso é possível no rock. A transposição de partituras mozartianas tão intrincadas é cuidadosa e os arranjos, mais do que a execução, deve(m) ter sido a parte mais trabalhosa. Por mais insólito que possa parecer, inclusive algumas passagens sugestivamente contrapontísticas foram preservadas – evocando um diálogo agora travado entre guitarra solo, lead guitar e baixo. O momento virtuosístico (em matéria de Mozart, não poderia faltar), fica por conta de um alegro em dó maior (K. 545), em que solistas acelerados chegam a duelar em arpejos de fazer inveja a Yngwie Malmsteen. Malmsteen, sintomaticamente e durante muito tempo, jactava-se de executar obras de Paganini, o violinista do século XVIII que, com suas acrobacias, virou sinônimo de habilidade e técnica. E quem disse que a orquestra não poderia conversar com Alex Masi e seu ensemble? Ela se faz presente no Concerto para piano nº 24 (K. 491), onde o mesmo é substituído evidentemente pelas seis cordas e pelos dedos velozes de Masi. Para quem sente falta de um opus mais popular, consta da seleção o infalível Rondo alla Turca (K. 331), preferido entre os maestros que querem, mais do que executar elegantemente o programa, apelar aos corações dos leigos no bis. E In the Name of Mozart, o álbum, abre com “Eine Kleine Nachtmusik”, mais conhecida como o tema para os perfumes de Vinólia (que os eruditos perdoem aqui a referência chula, mas a imagem das donzelas desfilando por entre árvores, ao som de Amadeus, está mais do que impregnada no inconsciente coletivo). Masi não parece o tipo que se aproveita do atual crossover entre gêneros, como Rod Stewart, mas, embora tenha tido uma iniciativa louvável, vai ter de transpor uma barreira cultural entre o rock’n’roll e a música clássica. Uma barreira considerável, como se vê.
>>> In the Name of Mozart - Alex Masi - Hellion Records
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Julio Daio Borges
Editor |
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