Quarta-feira,
15/12/2004
A difícil arte de viver de graça
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 205 >>>
Se os anos 80-90 tiveram Angeli (Chiclete com Banana), Laerte (Piratas do Tietê) e Glauco (Geraldão), os anos 2000 já podem dizer que têm Allan Sieber, Leonardo e Arnaldo Branco – todos em volta da recém-editada revista F. (Hy Brazil Editora/ Gibiteca Editorial). Talvez não seja essa a associação mais adequada, mas, a exemplo do trio de 1980-90, são novamente Três Amigos dando o sangue e a cara para bater numa publicação quadrinística e de humor. Já o formato, grande, lembra demais o Pasquim original. Se for essa a intenção, na F. falta jornalismo e sobra artes gráficas – apesar da entrevista bombástica de Claudio Assis, o cineasta por trás de Amarelo Manga (2003). Na linha desbocada que o mesmo Pasquim consagrou, e que volta a ser moda num tempo de menos palavras e de mais palavrões, Assis cai de pau, para ficar entre seus pares, em Hector Babenco e subliminarmente nos Irmãos Salles. Embora seu filme seja também mainstream, encarna aquela atitude underground, de excluído midiático, desqualificando o “sistema” (ou o que quer que isso seja) de alto a baixo. O tom agressivo (e agredido) permeia outros momentos da revista F. É louvável, por exemplo, o ataque a algumas unanimidades nacionais. Pediram, de repente, a Arnaldo Jabor que tentasse dizer algo que não envolvesse “as ilusões perdidas de sua geração” – ele ficou calado. Provocaram, então, Caetano Veloso – e este, atacado, foi atrás de Paula Lavigne para instaurar o quebra-pau (quando a F. foi concebida, a separação ainda não tinha tido lugar). Cansam, um pouco, as obsessões com sexo, mesmo que historicamente se saiba que, nesse tipo de veículo, o tema tem apelo forte. Para terminar, Allan, Leonardo e Arnaldo fazem de si mesmos personagens, numa fotonovela que narra a sua busca por uma secretária... Um ponto forte da F. é o preço, pois por 4 reais ninguém vai se sentir lesado (e vai, ao contrário, se arriscar). Em termos de conteúdo, não é a oitava maravilha do mundo, mas, em termos de iniciativa, é fundamental para abrir as transbordantes comportas geracionais.
>>> Revista F.
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Julio Daio Borges
Editor |
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