Segunda-feira,
20/12/2004
Samba e amor
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 206 >>>
Qualquer pessoa que tenha acompanhado minimamente a cena musical brasileira dos anos 90 ouviu falar do Nouvelle Cuisine. Mais do que uma inspiração da “nova cozinha” francesa, que deixou discípulos gastronômicos fiéis até hoje, o conjunto se sustentava na interpretação e na voz cool de Carlos Fernando. Claro que “cool” é um termo batido que perdeu seu significado, e claro que não adiantaria falar aqui também em cult (outra palavra vazia) no que se refere ao Nouvelle Cuisine. Ainda assim, qualquer coisa que sugira sofisticado, econômico, jazzy, bossa-novístico (no que esses dois estilos têm de melhor) pode ser aplicado ao binômio Carlos Fernando-Nouvelle Cuisine. Isso é uma ponta; a outra ponta é Toninho Horta, o mestre mineiro das 6 cordas e que influenciou (para não dizer que “ensinou tudo a”) Pat Metheny – o guitarrista americano que ganhou o mundo salpicando música brasileira aqui e ali, solo ou em grupo. Pois em 1994, quando o Nouvelle Cuisine dava as cartas, Carlos Fernando e Toninho Horta se reuniram para gravar Chico Buarque. Dada a importância e a relevância do registro, pode-se dizer que ele praticamente passou em branco (por algum motivo obscuro) – a não ser pelo fato de que a Dubas relançou o álbum, Qualquer Canção, agora, 10 anos depois (e justamente em comemoração dos seus próprios 10 anos). É um disco para sentar e ouvir, porque Carlos Fernando conseguiu ser tudo o que os novos vocais masculinos tentam hoje e não conseguem; e porque Toninho Horta está em sua melhor forma, rivalizando com performances histórias como, por exemplo, a do reeditado Elis & Tom (1974). Já Chico Buarque, que tantas homenagens recebeu (mesmo sem contar essas dos últimos anos), poucas vezes foi tão compreendido e bem trabalhado. “Pedro Pedreiro” virou quase um bebop; “Tatuagem” se transformou na canção mais joão-gilbertiana que João Gilberto jamais gravou; “Brejo da Cruz” produziu um inusitado, e improvisado, diálogo entre violão e voz; “As Vitrines” ganhou versão arpejada, densa, recitada, inebriante. Num tempo em que a noção de álbum se perdeu ou se fragmentou, Qualquer Canção resgata esses fundamentais “vestígios de estranha civilização”.
>>> Qualquer Canção - Carlos Fernando e Toninho Horta - Dubas
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Julio Daio Borges
Editor |
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