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Sexta-feira, 18/2/2005
Escaping

Julio Daio Borges




Digestivo nº 215 >>> Pode-se dizer que é recente, no Brasil, a tradição do guitar hero. Ainda na década de 90, David Coverdale – antes de tocar com Steve Vai e Jimmy Page, mas já tendo dividido o palco com Ritchie Blackmore – falou a uma extinta revista roqueira de sua lembrança do Joe Satriani brasileiro. Era Pepeu Gomes, que, em sua apresentação no Rock in Rio I, havia impressionado o frontman britânico. Já Kiko Loureiro não pode se queixar desse tipo de confusão. Dentro e fora do Brasil, onde já foi capa das mais conceituadas publicações do gênero (inclusive em países como França, Itália e Japão), seu nome aparece corretamente ao lado do Angra. É provável que essa história, de consagração, tenha começado lá atrás, com o estouro do Viper no oriente, com a saída de André Matos (então no vocal) e com seu retorno às paradas nipônicas já à frente do Angra. Hoje, sem André, Kiko Loureiro (lead guitar) divide a responsabilidade com Rafael Bittencourt – e aproveita as mudanças gerais na formação para lançar seu primeiro trabalho individual, No Gravity, pela Hellion Records. Se em 1985, Joe Satriani teve seu Surfing with the alien eleito como revelação pela Guitar Player dos EUA, em 2005, o Brasil chega ao mesmo patamar técnico e de gravação. E se nos anos 70, Nelson Motta produziu um dos mais desastrosos e históricos álbuns do rock brasileiro, com os Novos Baianos, atualmente nossos instrumentistas das seis cordas, como Kiko Loureiro, não ficam nada a dever para seus equivalentes no mundo inteiro. No Gravity emula, saudavelmente, além de Satriani, outros melodistas da era da distorção, como Marty Friedman (indo e voltando do Megadeth de Dave Mustaine). O diferencial de Kiko, na verdade, não é reconhecer esse background, evidente à primeira audição, mas apostar, corajosamente, em sonoridades e ritmos brasileiros. Que o digam as faixas, em português, “Pau-de-Arara”, “Desilusão” e “Choro de Criança”. E se a experiência com o Angra desenvolveu nele a couraça de business man, esse vôo solo, como se costuma dizer, remete aos desafios e à energia de um novo começo. Que assim seja.
>>> No Gravity - Kiko Loureiro - Hellion Records
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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