Sexta-feira,
1/4/2005
Celebrity killer
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 221 >>>
Embora o mercado de graphic novels tenha sido abandonado pelas grandes editoras na década passada, a HQ visivelmente sobreviveu – evoluiu, se diversificou e inclusive abriu espaço para autores locais. É o caso de Noite de Caça, com roteiro de Alexandre Dias e arte de Anderson Almeida, um lançamento da Brainstore Editora em 2004, dirigida por Eloyr Pacheco. Se os criadores brasileiros não estivessem em destaque na capa, e se o Brasil não estivesse tão presente nas paisagens da história, poder-se-ia dizer que Noite de Caça é uma realização de fora. A ambientação soturna, das metrópoles do futuro, e a ambigüidade dos personagens estão lá – no melhor estilo dos mestres do traço. Também a qualidade plástica, a dinâmica, fundamental, na seqüência quadro a quadro – promovendo o enlevo, o suspense e o final surpreendente. Impossível não se interessar pela heroína, de cabelos azuis; não se submeter ao charme do vilão, de uma paixão suicida; e não torcer pelo desfecho da trama, entre negociatas políticas e descaso pela individualidade. Noite de Caça mereceu o elogio de Mário Bortolotto, o dramaturgo revelação, que assina uma espécie de prefácio. Entre os autores, existe a diversificada experiência multimídia (hoje obrigatória), que evidentemente enriqueceu a narrativa com astutos pontos de contato com a realidade. Alexandre Dias, por exemplo, tem passagens pela música, como guitarrista da banda Velhas Virgens, e tem, também, o pé fincado no mercado fonográfico, por ser proprietário da Gabaju Records. Já Anderson Almeida chegou ao HQ Mix de 1999, graças a A Estranha Turma do Zé do Caixão, e passou pela publicidade através de clientes como Nike, Telefônica e Petrobrás (entre outros). É, igualmente, esse background que faz de Noite de Caça uma graphic novel de primeiro mundo – se não a primeira, uma das primeiras, nesse nível em terra brasilis. Isso sem, obviamente, mencionar a experiência de Eloyr Pacheco, o editor, que vem conduzindo a Brainstore com pulso forte, conquista atrás de conquista, buscando, além do respeito artístico, o respaldo comercial. Que a parceria perdure – pois um mercado historicamente invadido pela produção estrangeira, como o nosso, mostra que pode devolver uma resposta tão ou mais elaborada.
>>> Noite de Caça - Alexandre Dias e Anderson Almeida - 104 págs. - Brainstore Editora
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Julio Daio Borges
Editor |
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