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Segunda-feira, 11/4/2005
Mas o que são os homens maus?

Julio Daio Borges




Digestivo nº 222 >>> Quem pegasse Sergio Sá, o colunista do Correio Braziliense, de jeito, no início de março, poderia confirmar sua admiração (confessa?) pelo livro O Tolo Precário, de Wilson Rossato, lançado pela jovem editora Lamparina. E, de fato, trata-se de um bem construído romance, aparentemente policial, mas, finalmente, com uma pegada forte de crítica social. O Tolo Precário em questão é um escrevente de delegacia que, por participar, inadvertidamente, de um ato de tortura e morte de um prisioneiro da polícia, vê-se, posteriormente, enredado numa trama da qual, aparentemente, não sai. Como uma pequena mentira, pronunciada pelo canto da boca, seu envolvimento na tortura e no assassinato involuntário cresce a ponto de ele se ver, além de ameaçado de morte, vítima de disputas internas de poder – de modo que, embora tenha dividido a responsabilidade no caso com mais três colegas policiais, termina o livro sozinho, desamparado e sob o peso incriminatório da acusação. Wilson Rossato, o autor, caracteriza o tolo precário do seu livro como um personagem inexpressivo, à maneira de autômatos tão populares no século XX, como o Estrangeiro de Camus e o Winston, de 1984, de George Orwell. Não existe, portanto, grande riqueza psicológica no romance, já que os demais personagens são quase caricaturas da polícia corrupta do Brasil, e já que, pela extensão, o volume caberia no gênero novela. E, se a narrativa (razoavelmente criativa) compensa essa falha em matéria de densidade, o estilo prejudica o todo de forma considerável (ainda que não invalide a proposta). Rossato não parece decidido em termos de linguagem e adota um registro (como se diz em inglês) extremamente formal e coalhado de pronomes reflexivos, em pleno século XXI. Em algum ponto, lemos num diálogo seu: “Você o conhece?” – esse “o”, antinatural, não poderia jamais passar, de Rubem Fonseca pra cá. O Tolo Precário, enfim, é mais um esforço no sentido de se construir uma literatura brasileira nos anos 2000. Mesmo que não seja plenamente bem-sucedido, guarda méritos, como o do argumento, até que louváveis.
>>> O Tolo Precário - Wilson Rossato - 149 págs. - Lamparina
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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