Quarta-feira,
29/6/2005
Maestro
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 233 >>>
O reconhecimento artístico ou vem tarde, no Brasil, ou não vem nunca. Tom Jobim reclamava, no fim da vida, de ser – parafraseando Nélson Rodrigues? – o síndico de si mesmo: “Tudo, eu. É tudo comigo. Desde o pneu furado até as crianças na escola...” E, uma vez no Roda Viva, agradeceu Jorge Amado por haver publicamente defendido ele, Tom Jobim, em Navegação de Cabotagem. Quando um dos entrevistadores indagou: “Ora, mas precisava?”... Talvez por isso Tom Jobim dissesse, na frase clássica, que o Brasil não é pra principiantes. Moacir Santos diria o mesmo; ou pior. Esperou quase 80 anos (cumpridos em 2003) para ver suas “Coisas” relançadas – em Ouro Negro (de 2001); e esperou mais de 80 anos (agora em 2005), para ver suas “Coisas” executadas comme il faut – ça veut dire que: com a mesma orquestra e com o mesmo cuidado de Ouro Negro. Como? Reunindo toda a turma de novo e gravando, no Sesc Pinheiros, em maio, um DVD, com as participações de João Bosco, Ed Motta e Djavan. Foram apenas umas poucas noites; mas de muita emoção. Todos tocaram impecavelmente regidos pelos idealizadores (do CD e do show): Mario Adnet, no violão, e Zé Nogueira, ao sax-soprano. Brilharam, além desses, Teco Cardoso, endemoniado no sax-barítono (que inclusive foi de Moacir Santos), Marcos Nimrichter, que abriu o espetáculo com a “Coisa nº 2” ao piano (depois assumiu o teclado); Cristóvão Bastos, no mesmo instrumento; Andréa Ernest Dias, na flauta; Ricardo Silveira, na guitarra – e seria injusto (se não fosse apenas questão de espaço) não mencionar todos os outros. Embora gatos escaldados (cansados de guerra no mercado da música), emprestaram seu brilho à apresentação (como raramente acontece com músicos profissionais). Tanto que Moacir Santos, quando entrou de surpresa – e foi aplaudido de pé pela assistência –, pegou o microfone e apenas balbuciou: “Não tenho palavras”. Era o reconhecimento. Ele podia ter morrido antes. Quantos sobreviveram até tal?
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Julio Daio Borges
Editor |
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