Segunda-feira,
11/7/2005
Visões Fugitivas
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 235 >>>
Tradição de pai pra filho parece algum modismo perdido a partir do século XIX, ou antes, ou depois. Mas, contra todas as evidências, ainda ocorre. Estamos falando de Stephan Barratt-Due, que dirigiu sua Oslo Camerata em São Paulo, em maio, no Teatro Alfa, pela Temporada 2005 do Mozarteum Brasileiro. Barratt-Due, aliás, herdou a tradição do violino não apenas de seu pai, mas também de seu avô, obviamente na Noruega. Desde a mais tenra idade, estudou e se destacou a ponto de hoje, na vida adulta, ser um dos mais notáveis músicos da história de seu país, merecendo reconhecimento público de chefes de estado e, inclusive, a permissão (e o apoio, lógico) para realizar um sonho: montar, dirigir e consolidar uma orquestra norueguesa de cordas; outro feito, seu, histórico. Entre as ambições desse ensemble, além do reconhecimento internacional que já conseguiu, graças a solistas como Soon-Mi Chung (incorporada à Oslo Camerata), está, por exemplo, a de gravar as integrais de Edvard Grieg (projeto já em andamento e com previsão de conclusão nos próximos anos). Pois o público de São Paulo pôde experimentar um gostinho do que será isso, pela inclusão da Suíte Holberg, magistralmente executada, no programa. Como é praxe (ou quase), a apresentação foi aberta com o classicismo, pela presença de um Divertimento para cordas, impecavelmente conduzido, de Mozart. À medida, porém, que a noite avançava, íamos penetrando na contemporaneidade e no século XX. Lachrymae, de Benjamin Britten, ainda preservou aquela sensação de harmonia e de enxergar as coisas no lugar. Já o anteriormente mencionado Grieg foi rompendo com isso e, depois do intervalo, Prokofiev e Bartók, na liberdade atonal e das formas, permitiram vôos dos intérpretes, naquele dia, altamente inspirados. Tanto que, mais do que freqüentemente acontece, o público fez questão de se amotinar nas primeiras cadeiras e acompanhar de perto cada nuance, cada detalhe, cada olhar do maestro (ainda que isso incorresse em mergulhar debaixo da saia da senhora Chung). Foi a possibilidade, quase sempre inédita, de se transportar para o norte de Europa, para a cultura das mais avançadas nações.
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Julio Daio Borges
Editor |
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