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Quarta-feira, 20/7/2005
A inocência é minha culpa

Julio Daio Borges




Digestivo nº 236 >>> Fabrício Carpinejar não precisou publicar Como no Céu/Livro de Visitas (2005, Bertrand Brasil) para atingir a constelação literária da vida brasileira. Seu livro não precisou nem da orelha dupla de Manuel da Costa Pinto e de Millôr Fernandes. Antes, em Caixa de Sapatos (2003), ele já se estabelecia como a maior promessa da poesia brasileira. Merecidamente, diga-se. Ocorre que talvez o mainstream o tenha tornado alvo fácil e, desde anônimos obscuros até críticos ou mesmo autores consagrados, muitos começam a confrontar a unanimidade e a atacá-lo. O caso mais significativo talvez seja o de Wilson Martins, o eminente autor de História da Inteligência Brasileira (“o livro mais burro que já li”, Darcy Ribeiro), que, em O Globo, acusou Carpinejar de ser prosaico e de não fazer poesia. A questão é controversa. Para Daniel Piza, ardente defensor do jovem Fabro, Fabrício caminha, sim, para a prosa, mas intencionalmente. Daniel talvez esteja pensando no Drummond de A Rosa do Povo (1945) e até em Manuel Bandeira – no modernismo afinal como um todo. A verdade é que a guinada, de fato, acontece. Quem estava acostumado aos aforismos que representavam tão bem e faziam luzir os versos do poeta, vão encontrá-los agora esparsos e rarefeitos: “Por que a culpa do que não foi vivido é maior do que a culpa do que aconteceu?”; “Sempre nos momentos/ em que nada acontece,/ tudo é possível”; “Era o melhor confidente/ das mulheres, pela ausência de outro/ jeito de estar com elas”. Domina, ao que parece, um certo cronismo, um registro fácil da rotina, um apego à vida do dia-a-dia – de tal forma que, novidade das novidades, os leitores do blog de Fabrício Carpinejar vão se sentir totalmente confortáveis. De alguma maneira, consciente ou inconscientemente, Fabrício caminha em direção aos grandes cronistas (e autores) da mídia. Isso é ruim? Isso é bom? Não temos agora como saber. É, provavelmente, o preço a se pagar pela consagração. E, racional ou irracionalmente, nosso Fabro optou por ela. (Existe, aliás, outra alternativa para grandes escritores no Brasil?)
>>> Como no Céu/Livro de Visitas - Fabrício Carpinejar (blog) - 204 págs. - Bertrand Brasil
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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