Sexta-feira,
22/7/2005
The Flash and Crash Days
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 236 >>>
Estamos acostumados a desconfiar de filmes que a mídia suspeitosamente badala. Para quem acompanha a cobertura cultural de perto, salta aos olhos quando uma coisa (que pode não ser um filme também) merece páginas e páginas, enquanto outra, nada. Casa de Areia, o longa, por juntar Fernanda Montenegro, Fernanda Torres e Andrucha Waddington, mais a Conspiração Filmes (que nome...), mais a Petrobrás – ou seja, os mesmos suspeitos de sempre – foi amplamente badalado pela mídia estabelecida. O que gerou desconfiança – algo que é, em si, natural. Por isso a nossa resistência em embarcar no embalo de manadas de espectadores que confluíram em direção ao cinema na estréia. Mas um dia chegou a hora e caímos então de costas. O filme foi embalado pela propaganda como um blockbuster – e provavelmente seus realizadores esperavam que arrasasse literalmente quarteirões – mas é de uma sutileza que as massas obviamente não captaram. Conclusão: vai encerrar sua temporada nas salas com menos público do que o esperado e com menos público do que, por exemplo, O Casamento de Romeu e Julieta, de Bruno Barreto, muito menos badalado e muito menos criticado (no bom sentido e no mau). É uma das melhores performances entre mãe e filha e entre filha e mãe do cinema nacional, pois existe uma beleza irresistível (e uma arte inegável) quando elas, no longa, trocam de lugar. A tal casa de areia do título é, no fundo, uma metáfora para as situações que a vida nos impõe, que mudam o curso de toda uma trajetória, mas que de tão inevitáveis e de tão fatais, a saída – para evitar o desespero e o conseqüente suicídio – é aceitá-las, moldá-las e transformá-las no melhor que dá (no menos pior). A personagem de Fernanda Torres (que vira Fernanda Montenegro depois) luta durante anos contra a sina de habitar uma casa no meio da solidão, e da amplidão apavorante (e estéril), do “deserto” dos Lençóis Maranhenses. Por mil e uma razões, está condenada a ficar lá. No fim, constrói uma vida, suporta tudo e acaba não saindo nunca mais (mesmo que o destino lhe acene com outras oportunidades...). É o tal do amor fati, de Nietzsche; e digamos que o nosso “destino amorável” agora é render, a Casa de Areia, homenagens.
>>> Casa de Areia | Fernanda Montenegro e Fernanda Torres (entrevista)
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Julio Daio Borges
Editor |
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