Quarta-feira,
27/7/2005
Marte
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 237 >>>
Foi uma noite de gerações. De um lado o maestro Benjamin Zander que, quando jovem, recebeu lições do compositor Benjamin Britten; de outro, possivelmente a orquestra mais jovem e brilhante que já pisou no palco da Sala São Paulo, a Youth Philarmonic Orchestra, do New England Conservatory. Detalhe: tocando um programa que ia de Strauss a Stravinsky... Porque uma coisa é Zander regendo um repertório considerado difícil (ao menos, para os ouvintes), e usando para isso toda a tradição que pessoalmente recebeu dos velhos mestres; outra, completamente diferente, é a juventude no frescor de seus agitados 12, 13, 14, até, no máximo, 18 anos, fornecendo novas interpretações para o Don Quixote, de Strauss, e para A Sagração da Primavera, de Stravinsky. Foi dentro da Temporada 2005 do Mozarteum Brasileiro. Era belamente irônico. Enquanto a platéia, em idade adulta, acompanhava sobressaltada toda a fúria da Sagração, os músicos, em idade pra lá de jovem, pareciam perfeitamente à vontade dentro do aparente “desconforto” da mesma peça, depois de um século de barulhentas canções pop e da rebeldia ruidosa do rock’n’roll. A antiga condessa de Pourtalés que, na estréia da célebre composição, em 1913, quase quebrara o leque na cabeça do compositor (que por sua vez fugiu para os bastidores), observaria hoje embasbacada a familiaridade com que a adolescência do New England Conservatory manejava melodias e acordes, no mínimo, perturbadores. Mesma coisa com o Don Quixote: se, para adultos, parecia um verdadeiro tour de force acompanhar uma a uma as variações, para os jovens, era relativamente fácil deslizar tanto pelo tema quanto pelos seus desdobramentos todos. Completou o cardápio, Maurice Ravel. Sua Rapsódia Espanhola foi um aperitivo para esses conflitos tão saborosos. Ficou a cargo da imaginação o espetáculo que deve ter sido ver e ouvir a abertura Romeu e Julieta, de Tchaikowsky, e a suíte Os Planetas, de Gustav Holst, apresentadas no dia posterior. As velhas gerações devem ter igualmente se remexido nas cadeiras, enquanto que as novas devem ter flutuado com o maestro veterano... Só a grande música é capaz dessas coisas.
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Julio Daio Borges
Editor |
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