DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
12/9/2005
A Educação Sentimental
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 244 >>>
Na Casa do Saber, Milton Hatoum não gostava de se assumir como um dos “grandes” escritores brasileiros da atualidade; preferia dizer que era apenas “bom”... Também relutou um pouco em falar da própria obra, nesse seu “Seminário sobre o Romance”, série de quatro encontros (que se estenderam até cinco), para discutir esse gênero onívoro... Milton Hatoum partiu de uma exposição brilhante, diferenciando inicialmente o romance do conto e da novela, para desembocar nas suas três realizações – Relato de um Certo Oriente, Dois Irmãos e o recentíssimo Cinzas do Norte (todos pela Companhia das Letras) –, passando por alguns mestres seus: Machado de Assis, Euclides da Cunha, Joseph Conrad, William Faulkner e, claro, Gustave Flaubert. Como durante décadas palmilhou, em suas aulas e em suas leituras, as Palmeiras Selvagens de Faulkner, o Coração das Trevas de Conrad, os Três Contos de Flaubert, as narrativas curtas de Machado e uma croniqueta de Euclides, os grandes momentos ficaram por conta das brechas em que o Milton Hatoum-autor transcendia o Milton Hatoum-professor e sua obra pessoal, de escritor, estabelecia intercâmbios com as peças desses gigantes. Como, entre a audiência da Casa do Saber, todo mundo parecia sentir o mesmo, o desejo foi unânime no sentido de que Milton reservasse uma aula exclusiva, ou um encontro exclusivo, para tratar desses assuntos (temas dos quais se esquivava elegantemente, com medo de transformar o “Seminário” num “divã”, conforme colocou). Quem esteve lá, teve a chance de entender um pouco como o arquiteto da FAU dos anos 70 se transformou no escritor – primeiro de um romance político (e memorialístico), abandonado; depois, do Relato... Teve também a oportunidade de penetrar na composição de Dois Irmãos; e na repercussão tão custosa para seu corajoso autor, que se viu rompido com um dos ramos da família oriunda de Manaus... E pôde conhecer, em primeira mão, a gênese das Cinzas do Norte; do conflito entre o artista que vai e o que fica; entre o que capitula e o que se entrega à mundanidade... Milton Hatoum não tinha, naturalmente, uma conclusão para a sua própria trajetória. Quando confrontado com a fatídica pergunta “valeu a pena?”, tergiversava... Talvez porque, como bom discípulo de Flaubert, lhe bastasse contemplar o quadro. Que assim seja então.
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Julio Daio Borges
Editor
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