DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
27/3/2006
Falata
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 272 >>>
A fila de espera estava pra fora. Poucas vezes se viu o Salão de Idéias da Bienal do Livro tão abarrotado. O autor e o mediador tiveram de pedir passagem. Era Mario Sergio Cortella, lançando Não nascemos prontos, seu segundo volume de provocações filosóficas, pelo selo Vozes Nobilis. A platéia estava ávida e o tempo era, pra variar, curto. Mas Mario Sergio Cortella é orador hábil e, em pouco mais de quinze minutos, conseguiu passar algumas de suas considerações sobre o homem moderno. Para ele, nosso motor hoje é a urgência. Misturamos velho com arcaico (e antigo) e esquecemos de que, na tradição, pode haver valor. Confundimos fundamental com essencial e focamos numa ferramenta (por exemplo, no dinheiro), quando o foco deve estar na realização (quem sabe, numa vida boa?). Nossa tragédia, pra terminar, é tomar o outro como estranho e, na desunião, se render cada vez mais às armadilhas da modernidade. Mario Sergio Cortella, dentro de outra linha do pensamento filosófico da PUC, assume que fez a opção pela comunicação ampla, e não pelo hermetismo – e joga o jogo das palavras, e fala às pessoas, e é um bom vendedor de livros. O mediador do Salão de Idéias foi incisivo e tascou logo na primeira pergunta a dúvida que pairava no ar: “Você faz auto-ajuda? Não acha que a auto-ajuda é justamente essa diluição?”. Cortella assumiu que pode ser, sim, auto-ajuda, no sentido de estar ajudando o outro; e que não teria problema nenhum com o rótulo, se este lhe fosse atribuído, porque considera que faz, antes, filosofia e educação. É o dilema de todo intelectual brasileiro hoje: parece não haver alternativa entre falar para o povo ou falar para as paredes. A classe média (pensante) não existe, ou não conta. Vemos filósofos brasileiros de todas as plumagens correndo atrás do tempo perdido na academia: seja em cursos, seja em palestras, seja no rádio, seja até na televisão. Talvez devam aprender com Mario Sergio Cortella.
>>> Não nascemos prontos - Mario Sergio Cortella - 136 págs. - Vozes Nobilis
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Julio Daio Borges
Editor
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