DIGESTIVOS
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Quarta-feira,
12/4/2006
O túmulo do fanatismo
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 274 >>>
Voltaire (1694-1778) acaba sendo lembrado mais como polígrafo. Escreveu feito um condenado, e muitos contemporâneos seus atribuíam sua produção a um verdadeiro exército de escribas. Só de cartas foram mais de dezessete mil e, além de ser um feito inigualável antes e depois, poucos mortais enfrentaram toda essa produção epistolar. Voltaire não parava (a pena) para pensar e desovava uma obra atrás da outra. Sua vantagem era discutir filosofia, de uma maneira incrivelmente acessível, e, no momento seguinte, embarcar em querelas, ao abordar, através da imprensa, questões públicas. Misturava tudo com poemas e peças de teatro; talvez o Cândido seja sua obra-prima mais conhecida. A interlocução que manteve junto ao povo francês, e com a Europa de sua época, deve, naturalmente, tê-lo inspirado a escrever tanto e tão rápido. Foi, antes de qualquer coisa, um fenômeno. E, como em toda produção vasta e multifacetada, o grande Voltaire – que combateu a Igreja, preparando o caminho para Nietzsche – debruçou-se, também, sobre temas prosaicos como... o jornalismo(!). E, dentro do projeto Voltaire Vive, sob coordenação de Acrísio Tôrres, a editora Martins Fontes acaba de lançar o curioso Conselhos a um jornalista. Não é uma obra-prima, mas é um volume interessantíssimo para entender como se praticava o jornalismo da época e como Voltaire o via. Certamente, muito diferente de hoje. A erudição de Voltaire não deixa um parágrafo sem uma citação e a percepção histórica que ele exigia de um “jornalista”, atualmente, parece inatingível. Sua familiaridade com a antiguidade clássica é exasperante, porque, no século XXI, não se conhece direto nem mesmo a história do século passado. E suas peças sobre literatura são, para os resenhistas de hoje, uma tremenda humilhação. Voltaire é um desses gigantes que inviabilizam qualquer comparação. Legível, mais de três séculos depois. Que prossiga a coleção.
>>> Conselhos a um jornalista - Voltaire - 169 págs. - Martins Fontes
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Julio Daio Borges
Editor
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