DIGESTIVOS
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Quarta-feira,
26/4/2006
Dentes guardados
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 276 >>>
Talvez a sina da geração internet seja transpô-la e, num projeto bem-sucedido em outro meio, ter reconhecido enfim o seu valor. Da histórica revista CardosOnline (1998-2001), nasceu o hoje considerado “selo editorial” Livros do Mal (2001-2004), de Daniel Galera e Daniel Pellizzari. E, agora, de colaborações crescentes com a editora Companhia das Letras, resulta o romance Mãos de Cavalo, o primeiro livro de Galera (depois de outros dois) por uma casa editorial grande. O próprio Cardoso, pai da revista eletrônica, alçou vôos pela DBA (em contos), Clarah Averbuch, outro nome evocado, pela Planeta, e o mesmo Pellizzari, também, pela DBA. Mas nenhum dos três foi tão bem-sucedido como Galera, com seu atual romance. Mãos de Cavalo conta a história de um cirurgião plástico, de mãos grandes, em três tempos, paralelos e simultâneos (?): infância, adolescência e idade adulta. Parece arriscado para um autor estreante na Companhia das Letras (e com uma capa tão arrebatadora), mas o produto final é promissor. Galera é bastante descritivo logo no início, algo que Pellizzari classificou previamente como “naturalismo” (é a ele que Galera agradece, nas últimas páginas, no topo da lista). E o volume engrena mais ou menos no meio, com uma dose suave de psicologismos, dúvidas existenciais e provocações (superações, na verdade). Inspirado talvez nas quebras e nas mudanças de perspectiva de um Ian McEwan, e até de um Michel Laub em Longe da água (se pudermos, aqui, extrapolar), Galera termina muito bem e, como escritor, promete. Destaque para a cena do parto, para a descida de bicicleta (vertiginosa) e para a narração (desconexa) de uma experiência com drogas. Daniel Galera não foi fisgado pelos estigmas reivindicatórios da Geração 90 e a ela, felizmente, está sobrevivendo. Pode-se dizer que a internet brasileira tem finalmente seu primeiro escritor.
>>> Mãos de Cavalo - Daniel Galera - 192 págs - Companhia das Letras
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Julio Daio Borges
Editor
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