DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
21/8/2006
É bom para o moral?
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 293 >>>
Alguém ainda vai escrever, um dia, que não é só Lula que tem algo de “circense” (João Ubaldo Ribeiro), é a tevê. A conclusão salta, desta vez, da coletânea Trash 80’s, por Tonyy e Eneas Neto, ambos DJs, lançada agora pela gravadora Lua Music. É uma compilação, na verdade, de sucessos musicais dos anos 1980, no Brasil, a partir da festa de mesmo nome, que é, também ela, um sucesso há quatro anos (pré-Almanaque dos Anos 80, portanto). Voltando ao lado circense da coisa, o CD é um retrato fiel de uma época em que a televisão pautava toda a indústria de entretenimento – mormente, a fonográfica. Musicalmente, porém, quase nada sobreviveu a 20 anos de distância – retiradas as pilhas de teclados, todos os efeitos especiais de bateria eletrônica, mais um mau gosto inerente e, por que não dizer?, herdado da cafonice bufante dos anos 70... Acontece que quando a “breguice” ultrapassa qualquer limite concebível, então vira “kitsch”, e aí está tudo perdoado. Dominó, Paquitas, Luan&Vanessa, mais A Turma do Balão Mágico, Angélica e Ghengis Khan – todo mundo sabia que era coisa de criança. Já Fábio Jr., Grafite, Sidney Magal e Rita Cadillac, ninguém imaginava, mas era também. Sobra Metrô, a única manifestação musical mais honesta do disco, e a hilariante – até os produtores admitem – versão de Paulo Coelho(!) para “I will survive”, de Gloria Gaynor, na voz de Vanusa (“Eu sobrevivo”). Essas revistas que, volta e meia, perguntam se Coelho não é mesmo bom escritor, deveriam confrontar seus escritos com suas letras e concluir que: se antes ele já era ruim, em algumas décadas só conseguiu piorar... O CD Trash 80’s tem, como se diz, um interesse mais antropológico (que transcende o estético), mas será que sobrevive a uma segunda audição? Vamos assumir aqui que a primeira audição provoca surpresa e alguma rememoração em quem viveu a época, mas isso permanece além da catarse (de uma festa, por exemplo)? Os anos 80 ganharam importância econômica porque quem cresceu nesse período, ultimamente, adquiriu poder de compra. Culturalmente falando, por mais divertido que seja, o revival não parece justificável.
>>> Trash 80’s
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Julio Daio Borges
Editor
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