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Quarta-feira,
10/1/2007
Religioso, mágico, sofisticado, profano
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 311 >>>
Infelizmente, no mercado, na opinião pública e até no meio artístico, “popular”, em matéria de música, acabou virando sinônimo de popularesco. O termo popular, muitas vezes hoje, se converte em arma política, no sentido de impor, à estética, um apelo comercial e uma demagogia indesejáveis. Assim, somos obrigados a concordar com os alto-falantes, já que eles supostamente representam o gosto da maioria – e ai de quem contra-argumentar: estará sendo, para começar, antidemocrático; e, para terminar, sectário. Mas, quando parecíamos perdidos no labirinto do mau-gosto da soi-disant “música popular brasileira contemporânea”, eis que Benjamin Taubkin e o Núcleo de Música de Abaçaí surgem para nos salvar. Com... verdadeira música popular: sim, sambas-de-roda do Recôncavo Baiano; uma ciranda pernambucana; três temas do Congado Mineiro; e duas peças das Caixeiras do Divino, do Maranhão. De início – para os ouvidos maltratados pelo pagode acrílico, pelo bolero sertanejo e pelo axé bumbum – pode soar, conceitualmente, assustador; porém, basta colocar o CD Cantos do Nosso Chão (Núcleo Contemporâneo, 2006) para tocar que, como proferiu o jornalista Belmiro Braga, surge logo “uma luz calma que torna o mundo maior”. Quem precisa do salvo-conduto do name-dropping, além do piano delicado de Benjamin, de suas harmonias e contracantos, e do trabalho de pesquisa de quase 30 anos do Grupo Abaçaí, vai encontrar: Mônica Salmaso, Teco Cardoso (à flauta) e Paulo Freire (até na viola de cocho). Cantos do Nosso Chão realiza, em outras palavras, a ambição feliz de Dorival Caymmi – de atingir a simplicidade (e a eternidade) de uma “Ciranda Cirandinha”. Numa época de crise de identidade do que se convencionou chamar de MPB, a resposta pode estar, de novo, na tradição.
>>> Cantos do Nosso Chão
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Julio Daio Borges
Editor
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