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Quarta-feira,
31/1/2007
Sounds of Brazil
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 314 >>>
São históricas as críticas aos músicos norte-americanos que tentaram seguir a batida do samba. Desde Carmen Miranda, que era obrigada a cantar letras macarrônicas, com sotaque latino falso, já que não havia muito interesse, nos EUA, em compreender e assimilar sua cultura, até João Gilberto se estranhando com Stan Getz, no estouro da bossa nova, pedindo para Tom Jobim interceder, afinal, na sua modesta opinião, aquele gringo era mesmo burro... Esforços têm sido feitos, por parte dos músicos de todas as nacionalidades, para cantar em português brasileiro e para tocar um dia, quem sabe, bateria como tocava Milton Banana. Dentro dessa “linha evolutiva”, é exemplar o caso de Rick Udler, violonista “yankee”, herdeiro espiritual de Paulinho Nogueira e Baden Powell. Culturalmente, Rick está salvo por não ser “o puro”: foi criado, sim, nos Estados Unidos, mas mora no Brasil (escolheu a MPB), é neto de russos, filho de argentinos e nasceu no Chile. Daí talvez o título de seu disco, Papaya (lançado no ano passado, com distribuição pela Trattore). Udler não é um virtuose como Baden, nem quer concorrer com o jovem Yamadu; Paulinho Nogueira, então, cai como uma luva, num álbum de sonoridade limpa, com melodias simples e o acompanhamento discretíssimo de João Parahyba (percussão) e Zé Alexandre Carvalho (baixo); às vezes, Lika Meinberg (ao piano). Ecos de Villa-Lobos compondo para Segovia e Egberto Gismonti de Dança dos Escravos em, por exemplo, a bela “Inquietude”. Toquinho, Guinga? Em “Tribal”. Rick Udler bebeu na fonte certa; não é mais um eco perdido; tem composições para se guardar na memória; e sua obra pede mais que uma audição. Se nos 80 do Tom, a bossa nova aparece sempre como um prato requentado, e a MPB anda pulverizada entre o rock e as novas gerações, Rick Udler informa que a música brasileira vai bem, além dos limites oficiais, e deixa de ser nossa propriedade para ser, como o jazz, música do mundo.
>>> Papaya
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Julio Daio Borges
Editor
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