DIGESTIVOS
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Sexta-feira,
23/2/2007
Gentis, você já vio já?
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 317 >>>
Sabemos, via Tinhorão, que o “lundu” fundou muito do que conhecemos, hoje, como música (popular) brasileira. Já da “polca” sabemos que era aquele ritmo depreciado até no respectivo conto de Machado de Assis. O “maxixe”, segundo Tereza Pineschi, está entre um e outro. No seu CD, O teu grammophone é bão... (Pôr do Som, 2005), Tereza finalmente nos mostra, na prática, a diferença entre os três. Melhor do que definir os “ritmos” do século XIX, definitivamente, é ouvi-los. O Grammophone de Tereza, nesse sentido, revela-se um dos registros mais interessantes, dos últimos tempos, da nossa música entre 1830 e 1910. O problema das gravações recuperadas do início do século XX – quando começou o registro em disco – é que chegam até nós muito “poluídas”, ruidosas, nem um pouco easy listening. E o problema das regravações, em sua maioria, é que terminam tão “limpas”, frias e impessoais que não achamos, nelas também, a menor graça. Tereza Pineschi encontrou o meio-termo, juntou o melhor de dois mundos: fez uma bela pesquisa, respeitou as letras e partituras – mas não canta como se estivesse dentro de um barril; não persegue arcaísmos dispensáveis; e, ao mesmo tempo, não soa distante, anti-séptica ou versada em pedagogia. Além do prazer de aprender a diferença entre “polca”, “maxixe” e “lundu”, com exemplos (!), o álbum de Tereza traz de brinde uma revelação aterradora: como a música popular do Brasil piorou em 100, 150, 200 anos... Ainda que se tenha implodido com a forma-canção, mesmo quem a tem por objetivo, hoje, não consegue emplacar um único hit “cantável”. Pelo lado da letra, tudo bem que a versificação se foi, atualmente, mas parece que o português também, sem deixar qualquer rastro de gramática ou ortografia. O pessoal do século XIX, da Tereza, parece que era elegante até quando “desrespeitava” o idioma – porque havia charme, propósito e não a orgulhosa ignorância “politizada” de hoje. Por último, terminamos entendendo por que quem entende de música brasileira, invariavelmente, vai se refugiar no passado recente...
>>> O teu grammophone é bão
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Julio Daio Borges
Editor
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