DIGESTIVOS
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Segunda-feira,
17/3/2008
Comunhão, de Mario Gil
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 359 >>>
Mario Gil não parece que começou nos anos 80 — do "rock" brasileiro —, mas que vem "de antes", dos anos 60 talvez; e seu Comunhão (terceiro CD desde 1993) soa como uma aproximação tardia com o universo de Theo de Barros (principalmente com o último disco deste), ex-parceiro de Geraldo Vandré. Por outro lado, Mario Gil "comunga" com a turma seriíssima do Núcleo Contemporâneo, pelas presenças, pra lá de marcantes, de Mônica Salmaso e Teco Cardoso. As faixas com Mônica já valem o álbum todo; e não só porque ela esteja se consagrando como intérprete canônica, já há alguns anos, mas porque se apresenta confortavelmente ao lado de Mario Gil, como se no seu próprio disco. Os anos de produção de Gil (não confundir com Gilberto Gil) fizeram de Comunhão uma bela coleção de canções, graças aos seus trabalhados arranjos, onde nada (nem ninguém) sobra, ou falta. Além da forma-canção ter se perdido em algum lugar do século XX — para as novas gerações —, o mal dos novos artistas é não ter mais "repertório" (cultura geral mesmo) e, portanto, não saber aproveitar quando têm uma boa melodia nas mãos. Mario Gil, ao contrário, além de melodista atento, sabe construir uma harmonia, e sua desova calma, na última década e meia, indica que grava como quem não tem pressa (quase um dom hoje). Talvez os parceiros, seletíssimos, nas composições só confirmem: Paulo César Pinheiro, Rodolfo Stroeter e até Renato Braz. E versos como estes, para quem tem tanto cuidado com sua música, simplesmente não vêm a calhar: "Vivo como um vaga-lume/ Me acendo em cada olhar". Na montanha de lançamentos inexpressivos, Comunhão, de Mario Gil, pela Trattore, se destaca, porque não pede para sair logo na primeira faixa, se instala e toca repetidamente, surpreendendo sempre. Que Mario Gil consiga reunir essa mesma trupe, também em turnê, embora a comunhão já esteja registrada, em definitivo.
>>> Comunhão
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Julio Daio Borges
Editor
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