Digestivo nº 361 >>>
O Jesse James de Brad Pitt é uma crônica do grande homem. De como o grande homem, mesmo sendo um "fora-da-lei", sobrevive após a morte, como lenda, e, no seu caso, como mito fundador de um país. Robert Ford matou Jesse James, é verdade, mas, conforme fala o narrador do longa, quem se lembra dele? Entrou para a história como covarde, se é que entrou... Não se fazem mais grandes homens como antigamente; os medíocres venceram, dizem os pessimistas. A mediania triunfou, para usar uma expressão cara a Nélson Rodrigues. O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford fica, então, como alegoria do tempo em que grandes homens andavam sobre a Terra. Brad Pitt, como Jesse James, foi louvado em prosa e verso, mas não faz muito mais do que o durão — canastrão? — que sempre fez. A revelação é, mesmo, Casey Affleck, irmão de Ben, surgido em Gênio Indomável (ao lado de Matt Damon), que tenta emprestar alguma complexidade ao covarde da história — e consegue. Quem tenta prejudicar o grande homem, além de não conseguir (no fim das contas), revela a sua pequenez, e nada mais que isso — mas Casey Affleck chama a atenção, desde o início, para o seu "grande" projeto (matar Jesse James), realizando-o finalmente, e passando o resto do tempo como uma alma penada sobre a Terra... O clima tem um quê de funéreo, os diálogos são feitos do inglês truncado dos cowboys e a simplicidade do ato em si (matar Jesse James) contrasta com a transcendência da morte (dele) e do impacto social dela. Hoje, o politicamente correto implicaria com o "covarde" do título da fita e o pessoal dos "direitos humanos" protegeria Robert Ford de possíveis maus tratos (dentro ou fora da cadeia). O pequeno homem, hoje, todo mundo finge que não vê, pois apontá-lo é feio; já o grande homem, infelizmente, ninguém mais reconhece...
>>> O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford
Não podemos negar que, aqui, Brad Pitt conseguiu fugir um pouco do papel de mocinho bonito e fez um bom trabalho. Podemos adivinhar em seu olhar o sofrimento daquele homem. O que não se pode dizer, no entanto, é que o filme é uma "crônica do grande homem". Todos sabem que Jesse James vive, sim, no imaginário de muitos e é uma lenda. Porém, ele foi apenas um jovem atropelado pela vida que escolheu o caminho da revolta e se perdeu. Era um psicopata, um homem atormentado, e aí sim o filme tem sua importância, ao mostrar a luta de um homem que enxerga a sua loucura e não pode mais voltar atrás. Uma outra verdade mostrada no filme é que, no "Velho Oeste", não existiam heróis... Era um tempo, infelizmente, não muito diferente dos dias atuais (hoje, existem mais máscaras), homens comuns eram vítimas de gananciosos e covardes, todos buscando um lugar ao sol. Imperava a lei do olho por olho... É um bom filme, com algumas escolhas erradas, o que o deixou um pouco lento, poderia ser melhor...