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Quarta-feira,
25/6/2008
Desconhecidos, de Dionisio Neto
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 370 >>>
Numa pacata quinta-feira à noite, na sala menor do Sesc Consolação, ninguém espera encontrar Otávio Frias Filho quase à paisana — mas é o herdeiro da Folha de S. Paulo que encontra, se for assistir a Desconhecidos, peça de Dionisio Neto. Estrelada pelo próprio autor e apresentando Simona Queiroz, o texto usa de metalinguagem para alternar um dilema de paternidade (e virilidade) com a história (principal) de um serial killer. Carregando elogios de Antunes Filho e trilha sonora original de Arrigo Barnabé, o espetáculo tem quase todas as credenciais para ser considerado imperdível, mas talvez exagere na duração e no desejo extremo de chocar o espectador. Simona encarna, na parte principal, Catirina, uma aeromoça que acaba de ser despedida. Nessa experiência-limite, são interessantes suas reflexões sobre o mercado de trabalho, sobre o casamento e sobre um viver aparentemente sem sentido. Já pelo seu lado, Dionisio encarna Cristino dos Anjos Neto, um inicialmente simplório personagem da metrópole, que, numa transformação, domina o palco com violência, subjugando a atriz em cena. Embora o tema do serial killer, tão presente no cinema e na crônica policial contemporânea, tenha um forte apelo junto ao público, a impressão que fica é que o espetáculo não precisava ter chegado às vias de fato — soando, inclusive, mais convincente na primeira porção, "existencialista", dos questionamentos, da falta de perspectivas. Desconhecidos vale pelos diálogos, entre a ameaça e o riso, e, também, pelas performances, entre elaboradas e viscerais. É verdade que o espectador chega, ao teatro, ainda aturdido pela televisão, mas a internet está ajudando a desanuviar sua mente — e não precisamos, a fim de "despertá-lo", assustá-lo ainda mais...
>>> Desconhecidos (Entrevista...)
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Julio Daio Borges
Editor
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