Digestivo nº 398 >>>
Oscar Wilde dizia que deveria interessar mais a arte do que o artista, mas, mesmo assim, nosso tempo se revelou pródigo em biografias, e elas, nem por isso, fizeram feio nas listas de mais vendidos. Muitos biógrafos, contudo, permaneceram meio esquivos. Diziam, talvez parafraseando Wilde, que o interesse era o biografado (e não o autor da biografia). Metalinguagens à parte, Ruy Castro se deixou enfim desnudar, literalmente, por Heloisa Seixas, num Álbum de Retratos, numa nova coleção patrocinada pela Petrobras, sob os auspícios de Moacyr Luz. O objetivo é homenagear nossos homens de cultura, e Ruy, um dos inventores da biografia moderna no Brasil, está entre os escolhidos - sendo Heloisa, sua esposa e escritora com quase uma dezena de livros publicados, a mais habilitada para a tarefa de revelar o homem por trás de Chega de Saudade, Anjo Pornográfico e Carmen, entre outros. O ponto de partida são as fotos, e algumas imagens, onde se vê Ruy desde bebê, ainda garoto em Caratinga (MG, sua cidade natal), logo jovem, precoce, trabalhando desde os onze, também com rádio, e empregando-se, por primeira vez, no lendário Correio da Manhã, aos 19, a convite do grande crítico José Lino Grunewald. Antes dos 20, ainda, cobriria a posse de Guimarães Rosa na ABL e, indiretamente por causa dele (combinado a Oswald de Andrade e a cinema), faturaria logo um Prêmio Esso. Daí para os principais veículos de comunicação da imprensa escrita e para as biografias (lançou a primeira em 1990) nem tudo foi ascensão, e rosas. O Álbum, corajosamente, aborda o alcoolismo, flertes com a cocaína e, até mais recentemente, um câncer, antes de Ruy finalizar seu trabalho de maior fôlego, sobre Carmen Miranda. Ruy Castro, que namorou muito, viveu muito, não bebe mais e curte atualmente os netos, conclui que não tem medo de morrer, só de deixar inacabado um livro...
>>> Álbum de Retratos de Ruy Castro
Como em toda boa história, é o universo conspirando a meu favor. Estou fazendo uma pesquisa para o sarau que realizamos mensalmente em Ribeirão Preto; falaremos sobre Carmen Miranda, o que me remeteu à Ruy Castro, que aniversaria no mesmo mês de sua biografada; o que me trouxe à Heloísa Seixas, que não me é de todo desconhecida, já tinha visto notícias sobre este e outros livros dela. Mas, agora, estou morrendo de vontade de ter o livro aqui, ó, na mão, fora o prazer de conhecer este lugar aqui, que eu não conhecia. Vou marcar o caminho...!