Digestivo nº 436 >>>
Marcos Sacramentos pôs abaixo o Sesc Vila Mariana, numa quinta-feira deste início de outubro, cantando o repertório de Na Cabeça, seu último CD. Preservando fidedignamente os arranjos, trouxe, a São Paulo, o trio de violões que conferiu, ao álbum, uma identidade toda própria. À esquerda do palco estava Luiz Flavio Alcofra, também compositor, e, como Marcos disse, parceiro de uma década; à direita, Zé Paulo Becker, autor da impressionante "Canto de quero mais" (com direito a interpretação apoteótica de Marcos); e, no centro, Rogerio Caetano, o prodígio das 7 cordas (mesmo em sua bonomia, responsável pela maioria dos solos). Para completar o conjunto, a participação de Netinho Albuquerque, "uma escola de samba portátil" (Marcos), ao pandeiro, do meio do show em diante. A abertura foi uma perfeita recriação das primeiras faixas do disco, com Marcos Sacramento acertando tudo, em termos de afinação, ritmo, dicção e volume de voz (como sempre faz). "Na Cabeça", a faixa título, veio seguida de "Minha Palhoça", que deu sequência a "Um Samba", a oceânica composição do mesmo Marcos, e "Dia santo também". A densidade começou a aumentar, depois desse "aquecimento", com "Calúnia" e "Pavio" (dedicada ao Rio), ambas de Alcofra (a última com Sérgio Natureza). Noel Rosa fez uma primeira aparição em "Triste Cuíca", com trejeitos hilários de Marcos; e ninguém menos que Elis Regina reencarnou, no palco, com "Cai dentro", o clássico de Baden Powell e Paulo César Pinheiro (simplesmente irreproduzível depois dela; a não ser por Marcos Sacramento). "Sim", de Cartola (que não poderia faltar), evocou a versão de Ney Matogrosso, que pareceu até pálida. "Lamentos do morro", de Garoto, foi o pequeno show de virtuosismo do trio de violões. E um respiro. O bloco final foi de não deixar pedra sobre pedra, com "Último Desejo" (de Noel), numa de suas melhores interpretações de todos os tempos; "Bambo da Bambu", registrando o virtuosismo do próprio Marcos (cantando numa velocidade inumana); "Morena", recriada pelo artista desde seu registro com o compositor Maurício Carrilho; e "A Rosa", de Chico Buarque — viva, ressuscitada, genial e hilariante. O bis ainda brindou o público com "Baião da Penha", a mesma de Luiz Gonzaga, travestida de samba. Marcos Sacramento permanece, sem concorrentes, como o maior cantor do Brasil contemporâneo — quem ainda tem dúvidas, que vá vê-lo ao vivo...
>>> Marcos Sacramento
Concordo com tudo, em número, gênero e grau. Esse show foi sublime, Sacramento é um arraso total, sou apaixonada por ele há pelo menos quinze anos. Parabéns pela crítica.