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Quarta-feira,
28/10/2009
Diálogo entre Maquiavel e Montesquieu, por Maurice Joly
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 438 >>>
Maurice Joly foi um advogado francês do século XIX que, sob o impacto da ditadura de Napoleão III, resolveu denunciar seus abusos de poder em livro. Compôs, para isso, um hábil diálogo no qual Montesquieu enfrenta Maquiavel — com vantagem para este, como se o autor de O Príncipe justificasse os desmandos do mesmo Napoleão III. O panfleto foi editado em 1864, anonimamente, mas fez tanto sucesso que seu autor acabou preso, claro, pelo governo de Napoleão III. A posteridade contudo lhe faria justiça, pois foi a respeito do sobrinho de Napoleão Bonaparte que Marx escreveu: "Todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes: [...]a primeira como tragédia, a segunda como farsa". A editora Unesp acaba de incluir Diálogo entre Maquiavel e Montesquieu na sua coleção Pequenos Frascos, para grandes obras em formato de bolso. Leitores brasileiros não versados em Direito podem encontrar alguma dificuldade a partir da segunda parte, em que Maquiavel passa a detalhar seu governo ditatorial ("inspirado" em Napoleão III). Mas, certamente, todos poderão se deliciar com o ressurgimento do autor do Príncipe, desde o primeiro capítulo, quando dispara: "O homem é mais atraído pelo mal do que pelo bem; o medo e a força têm sobre ele mais domínio que a razão". Reafirmando, entre outras coisas, seu desprezo pelo chamado povo: "É possível conduzir pela razão pura massas violentas que só se mobilizam por sentimentos, paixões e preconceitos?". Montesquieu, sabiamente, contestaria: "Compreendo que você é, antes de tudo, um homem político, e que os fatos o tocam mais perto que as ideias. Entretanto haverá de convir que, quando se trata de governo, é necessário chegar a princípios". Para concluir: "Creio que, para serem felizes, os povos necessitam mais de homens íntegros do que de homens geniais". Só as discussões iniciais entre o injustiçado criador do "maquiavelismo" e o autor de O Espírito das Leis já valem a reedição. Pena que os nossos governantes leiam tão mal quanto (ou ainda pior que) Napoleão III...
>>> Diálogo entre Maquiavel e Montesquieu
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Julio Daio Borges
Editor
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