Digestivo nº 439 >>>
E mais um capítulo da guerra sem fim entre jornalistas e blogueiros teve lugar nas últimas semanas, com o anúncio do Guardian, um dos maiores jornais do Reino Unido (e um dos maiores na internet em língua inglesa), contratando blogueiros para produzir notícias locais a partir de algumas capitais do mundo, não exigindo mais formação, ou mesmo experiência, em jornalismo. Que a internet já vinha dando sucessivos golpes na prática do jornalismo tradicional, ninguém hoje duvida, mas que uma empresa de mídia, com sua fundação ligada a um grande jornal, reforçasse a supremacia dos blogueiros — no métier jornalístico —, ninguém imaginaria. Independente da discussão mesquinha, invariavelmente levada para o lado pessoal, o anúncio é, mesmo que simbolicamente, também um golpe sobre a afirmação de que apenas jornalistas, de papel, sabem fazer "cobertura local" — algo que, até há pouco, era, inclusive, uma justificativa para a manutenção do status quo de redações onde, como notoriamente se sabe, a maioria sequer pisa na rua, passando longas horas na frente do computador, quando não "reprocessando" press releases (para reimprimi-los no dia seguinte). E a iniciativa do Guardian vem a calhar, no Brasil, quando a poeira do fim da exigência de diploma, para a prática de jornalismo, ainda não assentou, com protestos de burocratas da profissão, que fingem não enxergar que podem estar sendo, neste momento, ultrapassados por alguém com um computador e uma conexão à internet... O Guardian vai pagar os blogueiros e uma suspeita de que estaria preparando um portal com notícias locais de grandes cidades, subitamente, está à beira da confirmação. Numa demonstração de sabedoria, a nova empresa de mídia (o "ex-jornal") deixou de competir com os impressos e se preocupa, atualmente, em garantir uma supremacia na internet (que, há anos, é mais importante que as bancas de jornal). No Brasil, contudo, ainda se lançam novos jornais de papel, e se oferecem velhos jornais a preços à la carte (quando os internautas não os querem nem de graça). Quem sabe, o Guardian ensine aos nossos jornalistas que, no lugar de ficar implicando com a blogosfera (e as mídias sociais), deveriam se aliar aos blogueiros, enquanto é tempo...
>>> Guardian Hiring Bloggers For Local News Network
Não são de qualquer modo diferentes blogueiros contratados pelo Guardian e profissionais de redações se são pessoas que ficam atrás de computadores rastreando informações, seja fazendo blogues ou, conforme opinas, como "a maioria" que "sequer pisa na rua, passando longas horas na frente do computador, quando não reprocessando press releases (para reimprimi-los no dia seguinte)". O notório pra mim é que computador é ferramenta/meio para blogueiro ou profissional de redação de jornalismo. O resto, o que faz cada um fora ou dentro de redação, na sala de casa ou nas ruas, fica por conta de juízo teu ou pesquisa que te oriente a conceituar dessa forma o jornalista profissional.
Que uma coisa se propague com força não quer dizer que tem sentido ou seja certa - vide o caso Geisy, no qual, no momento, a multidão se envenenou, mas nem por isso se acha corrreto o que fizeram... O Ministro Gilmar Mendes disse que o jornalista não tem impacto na sociedade, como um médico ou um engenheiro. Vamos ver, mais adiante, quando uma dessas pessoas "noticiosas" resolver brincar com a informação... É cansativo discutir isso, quando todo mundo acha que pode exercer um profissão sem nem saber como, por quê e sob que princípios...