Digestivo nº 442 >>>
Detetives existem aos montes, principalmente em subliteratura policial, que se diz baseada em Edgar Allan Poe, mas que, na maioria dos casos, não tem nada que remeta ao grande mestre do conto. Jonathan Ames, por sua vez, é um escritor pouco conhecido, em Nova York, com um trabalho não muito significativo na imprensa, que assiste a seu casamento desabar, quando, num surto de desânimo, e solidão, decide colocar um anúncio no Craigslist, o maior site de classificados da internet, dizendo-se detetive particular e cobrando barato. O que era uma brincadeira, ou uma private joke, acaba virando coisa séria, quando a primeira cliente liga e Jonathan tem, como missão, encontrar sua irmã desaparecida. O detetive iniciante, no entanto, é desajeitado, está deprimido, não sabe quase nada da profissão, a não ser por alguns livros, como os de Raymond Chandler, que leu distraidamente. Fazendo contraponto: seu chefe, um egomaníaco, capaz de arrastar Jonathan para uma cabine de banheiro, a fim de fazer-lhe confissões, ou de telefonar-lhe na calada da noite, para resolver um problema de pele, com um tratamento pouco convencional; também seu melhor amigo, um desenhista de quadrinhos igualmente loser, que tenta recuperar a relação com a mulher, enquanto prejudica o relacionamento de Jonathan e censura-o por sua nova aventura como investigador. O detetive improvisado soluciona o primeiro enigma quase que por acaso. Surge, obviamente, outro, e a porção cômica se sobressai, porque são maiores as trapalhadas — mas Jonathan, sem medo do perigo, sente-se renovado, vivendo uma existência que não é a sua, e que acaba de inventar, graças à internet... Esse é, mais ou menos, o "argumento" de Bored to Death, uma série de TV, assinada por Jonathan Ames (é seu nome verdadeiro), e que estreará na HBO brasileira em breve. Na première, à noite num cinema em São Paulo, havia, além de assinantes de TV a cabo, blogueiros que, por ironia, criaram, igualmente, uma personagem na internet, e que, algumas vezes, até vivem dela... A possibilidade de ser "outra coisa" está instalada e, ainda que Bored to Death não seja da maior profundidade, coloca essa discussão em pauta.
>>> Bored to Death
Se até a revista top de credibilidade mundial pode se deixar enganar pelo "cara", os 80% de brasileiros mal informados estão perdoados, afinal só se cobra de quem tem...