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Quarta-feira,
22/12/2010
A História da Inteligência Brasileira, de Wilson Martins, pela UEPG
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 474 >>>
Ainda existe crítica literária? É uma pergunta que se coloca quase tão frequentemente quanto outra, mais ampla: "Ainda existe jornalismo?". Se a crítica se caracteriza pela periodicidade, talvez ela não mais exista. Numa guinada para o populismo — tentando vender mais exemplares, e sobreviver na era da internet —, os impressos aboliram muitos dos assuntos difíceis. E crítica literária, certamente, está entre eles. Não "lançamento" ou "divulgação" de livros, mas análise e até juízo de valor. Por outro lado, com a explosão das pequenas editoras, e o barateamento dos custos de produção, tornou-se quase antidemocrático criticar um autor que estava, de repente, bancando sua própria edição. "O Brasil tem tão poucos leitores, e escritores... Deixa pra lá". Aliado a tudo isso, conclui-se que a melhor resposta aos maus livros seria a indiferença, o silêncio. Assim, ficamos sem saber se um determinado volume terminou sem resenha porque era ruim mesmo ou porque a crítica literária simplesmente deixou de existir... Pode parecer inimaginável hoje, mas esse panorama já foi diferente. Mesmo o Brasil teve críticos literários com poder de fogo, capazes de consagrar ou enterrar um carreira através de um texto. Wilson Martins foi um deles, e praticou a crítica literária, sistematicamente, como ninguém. Durante décadas, até morrer. E, claro, colecionou desafetos, até o final, igualmente. Dois de seus alvos, contemporâneos, foram a biografia de Machado de Assis, escrita por Daniel Piza, e um dos livros da poesia de Carpinejar (antes de experimentar outros gêneros de escrita). Quando parecia alheio a tudo, Wilson Martins voltava a incomodava o establishment... Mas isso, de certa forma, acabou. Primeiro, porque não há "espaço", ou concentração de mídia suficiente, ou até autoridade tout court. Depois, porque é tempo de "publicar". Mais para frente, será talvez tempo de fazer avaliações. "Agora não dá. Vamos publicar primeiro. O leitor que julgue." Não eram esses os motes da geração precedente? Se tivesse feito só o que fez em matéria de crítica periódica, Wilson Martins já teria feito muito. (Quem duvida, que procure a série Pontos de Vista, nos sebos especializados.) Não contente, porém, Wilson Martins escreveu uma História da Inteligência Brasileira. Um título que gerou reações exaltadas, mas que se referia, sobretudo, à história literária do Brasil. Como se não apenas a nossa história tivesse começado — como a História, com "H" maiúsculo — com a escrita, mas também a história da nossa "inteligência", da nossa intelligentsia, das nossas manifestações intelectuais. E Wilson Martins percorreu as nossas letras, desde Anchieta, nas primeiras décadas do Descobrimento, varrendo cinco séculos, em sete volumes. Em seus últimos anos, Wilson Martins estava, justamente, revisando sua História da Inteligência Brasileira. E, agora, ela sai, atualizada e revista, pela editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (cujo Pró-reitor de Extensão e Assuntos Culturais é ninguém menos que Miguel Sanches Neto). O estilo de Wilson Martins não é unânime, mas seus achados sempre compensam. Sei que é difícil convencer alguém a lê-lo para aprender como é que se faz crítica (quando a crítica profissional subsiste); mas é fácil vendê-lo como — além de uma das grandes realizações da nossa crítica — uma das grandes realizações da nossa inteligência, até aqui.
>>> A História da Inteligência Brasileira
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Julio Daio Borges
Editor
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