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Quarta-feira,
12/1/2011
Conversas com Paul Rand, por Michael Kroeger
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 475 >>>
Paul Rand foi um revolucionário do design. A cada década, como Miles Davis no jazz, revolucionava sua atividade. Nos anos 30, levou o que Steven Heller chama de "arte comercial" da prática artesanal à profissionalização. Nos anos 40, consolidou o papel do design na propaganda e nas capas de revistas e de livros. Nos 50, introduziu o conceito de "identidade visual" nas grandes corporações. E, nos 60, criou marcas eternas como IBM, ABC e Westinghouse (entre outras). Na visão do mesmo Heller, que prefacia Conversas com Paul Rand (Cosac Naify, 2010), combinou ideias do construtivismo russo, do De Stijl holandês e da Bauhaus alemã, desaguando tudo na pujante arte comercial norte-americana. E Rand foi longevo. Ainda dava seus pitacos em meados da década de 90, quando já passara dos 80 anos. Acumulou seis décadas de carreira e quarenta anos como professor, entre Yale e Brissago, na Suíça. Concebeu, por exemplo, a imagem da Big Blue, que a Apple combatia nos seus primórdios (com o computador pessoal), até receber um abraço de Steve Jobs — "um cliente durão" —, quando criava a marca da Next. Mas Rand não era, apenas, um artista brilhante. Era um pensador da atividade, tendo seu Thoughts on Design (de 1947, quando ele tinha apenas 32 anos) se tornado "a bíblia do design gráfico moderno", ainda segundo Heller. (Agora, pensando bem, talvez seja daí que Jobs tenha tirado inspiração para seu Thoughts on Music [2007] e até para seu mais prosaico Thoughts on Flash.) Rand, contudo, não considerava o design "um fim em si mesmo" (Heller), uma "arte", mas, modestamente, "um serviço". Ainda que buscasse inspiração na grande arte e nunca engolisse a chamada arte pop. Apontava a origem do design, como conceito, no biógrafo renascentista Giorgio Vasari, que já havia escrito que o design — ou, simplesmente, o "desenho" — era fundamental, servia de base para outras artes, como pintura, escultura, arquitetura e até escrita. Rand, aliás, criticava a proliferação das "fontes" na contemporaneidade. E olhava para o computador com bastante desconfiança. Achava que a poderosa máquina não deixava mais tempo "para se ser contemplativo". E que — em linguagem bem direta — o computador ficava dando sucessivos "chutes" no "traseiro" do usuário, impedindo que seu pensamento fluísse (na obrigatoriedade de transformar tudo em ação, em cliques de mouse). Rand, irascível, definia o design como conflito, "um conflito entre a forma e o conteúdo". Avisando aos navegantes: "Nunca discuta estética com seu cliente". Fechando ainda, com uma sabedoria que pode ser aplicada, novamente, às demais artes: "O processo vai da complexidade à simplicidade". O livro Conversas com Paul Rand reúne transcrições de duas aulas de Rand, em que, como um Sócrates do design, persegue as raízes dos problemas levantados. (Sem poupar os alunos ou interlocutores.) E termina com depoimentos de discípulos ou amigos seus, que contam um pouco sobre Paul Rand na intimidade. Numa época de correção política, faltam homens como Rand, que viviam e agiam conforme suas verdades.
>>> Conversas com Paul Rand
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Julio Daio Borges
Editor
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