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Quarta-feira,
14/12/2011
Dicionário de Ciências Humanas, de Jean-François Dortier
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 484 >>>
Os dicionários, como o Aurélio e o Houaiss, todos conhecemos desde a escola. Acontece que, para quem navega nas chamadas "humanidades", a definição simples, de termos através de sinônimos, às vezes não basta. Como definir "pós-moderno", por exemplo? "O pós-moderno designa uma época marcada pelo 'fim das grandes narrativas'. Na realidade, é o fim das crenças no progresso e na marcha inexorável rumo a um homem melhor." E, ainda: "'Pós-moderno' é sinônimo de 'desilusão'. É uma estética desiludida, de um indivíduo que perdeu seus referenciais e que vaga numa sociedade sem futuro, sem passado e sem transcendência" (Jean-Francois Lyotard). Dá para ver que essa definição não é a de um dicionário comum... Está no Dicionário de Ciências Humanas, de Jean-François Dortier, sociólogo francês, editado pela WMF Martins Fontes. Também a definição de "paradigma", segundo Thomas Samuel Kuhn: "A ciência não evolui de maneira contínua, e sim por 'saltos'. Em cada época constata-se efetivamente a existência de um modelo dominante ou 'paradigma'." Assim: "Um paradigma é um corpus de hipóteses estruturadas entre si e que formam o sistema a partir do qual uma 'comunidade' de estudiosos reflete num dado momento." Igualmente, a noção de "hipótese e refutação", proposta por Karl Raimund Popper: "Cheguei à conclusão de que a atitude científica era a atitude crítica. Ela não buscava verificações, mas experiências cruciais." O Dicionário, de Dortier, vai desde as "ciências cognitivas" até as "ciências da informação e da comunicação". Com "anexos" dedicados a disciplinas mais tradicionais como Antropologia, Arqueologia, Educação, Política, Economia, História e Filosofia. Há espaço para autores contemporâneos, como António Damásio, para quem: "A razão e o conhecimento não bastam. As emoções são necessárias para que se tome uma melhor decisão" (O Erro de Descartes). E, naturamente, há espaço para autores clássicos, como Hobbes: "A cultura é o treinamento e o refinamento da mente" (Leviatã). Além de um texto fluido, Dortier não se deixa contaminar por ideologias, ainda que tenha suas preferências inevitáveis. Dá crédito para a crítica de John Kenneth Galbraith à "sociedade de consumo" (em A Sociedade Afluente): "[Nela] não são os produtores que estão a serviço das necessidades do consumidor, mas o contrário". Dortier, contudo, também consegue falar de "administração", e de organizações, como a "mecanicista" (segundo Henry Mintzberg): "Nesse tipo de organização, a divisão do trabalho é muito desenvolvida, os procedimentos são codificados e a linha hierárquica é extensa. O meio é estável e as decisões são do tipo estratégico e panejado. A capacidade limitada de inovação resulta em longos períodos de estabilidade seguidos de crises". Alguém se lembrou dos nossos dinossauros? Dortier não se esquece de Manuel Castells, que definiu a nossa era como a Era da Informação. E nem dos clássicos dos clássicos: "ética", ele recorda, vem de ethos ("hábito" em grego); e "mortal" vem de mores ("costumes" em latim). Se Espinosa acreditava que a ética servia "para nos libertar de tudo o que diminuiu nosso poder de agir e para alcançar a sabedoria", de modo semelhante, o Dicionário de Ciências Humanas pode nos salvar da ignorância, que era o supremo mal, para Sócrates ;-)
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Julio Daio Borges
Editor
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